Tenho a certeza de que nenhum almeirinense é indiferente ao estado da Vala Real. Eu não sou. Passar por ali e ver o potencial desperdiçado custa-me! À primeira vista parece simples dizer “nós vamos limpar a vala!”, mas a realidade é bem
mais complexa. Explico porquê.
O troço de 10km que atravessa o concelho tem combros muito altos e inclinados, cobertos de vegetação desordenada. Para que uma giratória chegue à água é preciso antes reparar todo o perímetro, criando estradões e plataformas de acesso numa extensão de 20km, o 1º grande investimento. Só depois se pode avançar para a 2ª fase e respetivo investimento: remover espécies infestantes e desassorear o leito.
Agora precisamos de tornar toda a vala navegável, para isso temos que criar açudes para garantir que temos profundidade sufi ciente: o 3º investimento.
Com a vala limpa, acessível e navegável, surge o passo mais importante: a manutenção. Aqui entra o famoso barco. Mas usá-lo antes destas três fases é inútil. A zona do Pego da Rainha é exceção, tem profundidade e um estradão que permite retirar os jacintos empurrados pelo barco. Contudo, limpar apenas esse troço nada resolve enquanto o resto permanecer inacessível.
Considero o barco uma excelente aquisição, já que foi praticamente todo financiado. O problema, a meu ver, foi não se ter explicado que havia muito trabalho prévio antes deste ser eficaz.
Trata-se de um processo caro e complexo, que exige articulação rigorosa com a Agência Portuguesa do Ambiente, especialmente restritiva quando se trata de mexer em linhas de água.
Apesar das dificuldades, esta é uma batalha que queremos e vamos enfrentar, para que a Vala Real revele finalmente todo o seu potencial.