Chegado da Índia há seis anos, Bhaummik Patel tem vindo a construir em Portugal um percurso marcado pela paixão pela cozinha e pelo desejo de ter uma vida melhor junto da sua família.
O que motivou a sua vinda para Portugal?
Vim por causa da culinária. Antes de sair da Índia, estudava numa escola de pastelaria e planeava abrir uma pastelaria no meu país. Entretanto, comecei a pensar em emigrar e continuar esse sonho noutro lugar. Considerei dois destinos: França e Portugal. Acabei por escolher Portugal porque me parecia um país mais calmo, com bom clima e um ambiente acolhedor.
Como descreve os primeiros tempos após a chegada? Quais foram os principais desafios?
Foram tempos muito difíceis. Quando se chega a um país onde não se conhece nada nem se fala a língua, tudo se torna complicado, comunicar, pedir ajuda, lidar com o dia a dia. Com o tempo, comecei a fazer contactos, arranjei um quarto para viver e consegui o meu primeiro trabalho, na agricultura. Também tive o apoio de estruturas como o CLDS e a associação ProAbraçar, que foram fundamentais para me orientar nos primeiros passos.
Que fatores contribuíram mais para a sua integração?
O apoio que recebi do CLDS, da associação ProAbraçar e de outras pessoas, incluindo vizinhos, foi essencial. Essas relações ajudaram-me muito a integrar-me e a sentir-me acompanhado.
Houve algum momento que tenha marcado a sua adaptação de forma positiva?
Sim. O nascimento da minha filha aqui em Portugal foi um momento muito especial. A partir daí, senti que a minha vida aqui ficou mais completa e que a adaptação se tornou mais natural.
Como foi o seu percurso profissional desde que chegou? Houve oportunidades importantes?
O meu primeiro trabalho foi na agricultura, onde estive cerca de nove meses. Era um trabalho muito duro e, nessa altura, enfrentava também dificuldades com habitação. Além disso, a minha esposa estava grávida. Depois mudámo-nos para Santarém, onde consegui trabalho num restaurante. Fiquei lá dois anos e aprendi muito, até cheguei a trabalhar sozinho na cozinha durante oito meses. Ganhei confiança e decidi procurar outro restaurante para ganhar mais experiência. Mais tarde, realizei um grande sonho, abri o meu próprio restaurante, o Mister Caril, em Fazendas de Almeirim. Infelizmente, devido aos horários e à necessidade de cuidar da minha filha, tornou-se difícil conciliar tudo e tive de fechar. Tentei trazer o meu pai e a minha mãe para Portugal para me ajudarem, mas o visto não foi aprovado. Entretanto, comecei a trabalhar como motorista de TVDE (Uber) e também como mediador/tradutor, ao ajudar autoridades como a GNR ou tribunais quando precisam de comunicação com pessoas da Índia, Paquistão, Nepal ou Bangladesh.
Que conquistas pessoais ou profissionais sente orgulho em partilhar?
A maior conquista foi ter aberto o meu restaurante, o Mister Caril. Ainda hoje há clientes que me perguntam quando vou reabrir. Por isso penso, no futuro, talvez não reabrir um restaurante físico, mas criar uma cloud kitchen e cozinhar a partir de casa para vender por encomenda.
Como tem sido lidar com as diferenças culturais? Sente-se respeitado?
Nunca tive problemas. Acredito que, quando respeitamos a cultura dos outros, também somos respeitados. Em seis anos nunca tive uma situação desconfortável. Sempre encontrei pessoas calmas, disponíveis para ajudar. E sempre que precisei, pude contar com apoios como o CLDS, a associação ProAbraçar e outros contactos que fiz pelo caminho.
Se pudesse deixar uma mensagem à população portuguesa, qual seria?
Quero dizer muito obrigado! Portugal deu-me coisas que nunca imaginei ter. A diferença entre onde eu estava e onde estou hoje é tão grande que nem consigo expressar em palavras. Sou muito grato a Portugal!














