Mais do que uma opinião, este escrito é um recado!
O que tem sido feito pela importância histórica de Almeirim, que foi Vila Real, particularmente a partir de D.João I seu fundador (1411) e ao longo de toda Dinastia de Avis? Foi de tal modo importante que o seu Paço Real e a Igreja Gótica de Santa Maria então construídas, foram frequentados pela corte portuguesa dos séculos XV a XVII. Atraídos pela grande coutada ali fizeram estadias não só para caçadas e treinos militares, mas igualmente se tomaram decisões régias e encontros de desenfado, juntando personalidades da cultura, das artes e das letras. Todos os reis e suas cortes deste áureo período das descobertas tiveram ligação estreita no Paço Real de Almeirim – D. Duarte que escreveu o “Leal Conselheiro” e “A Arte de bem cavalar em toda a sela”, Afonso V e D. João II, D. Manuel e D. João III que marcaram a sua presença com inúmeras obras locais, D. Sebastião e o Cardeal D. Henrique que acabou por falecer quando decorriam as Cortes de Almeirim a favor de Filipe II de Espanha. Muitas obras viriam a ser impressas na tipografia do Paço, nomeadamente as Alegações de D. Catarina de Bragança ou o “Cancioneiro Geral” de Garcia de Resende. Gil Vicente escreveu e representou em Almeirim quatro dos seus Autos. Aqui tiveram casa Francisco d´ Holanda (pintor e arquiteto renascentista) e João de Castilho (mestre escultor e arquiteto), co-autor do Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa e claustro de D.João III no Convento de Cristo -Tomar e tantos outros. Por aqui passou Luís de Camões que referencia numa redondilha as “altas torres de Almeirim”, Pedro Nunes (Físico e matemático)…Por cá passou D.João IV e seu filho Afonso VI. Poderíamos referir o Paço dos Negros (1512) e o Convento da Serra que atualmente tem uma pintura exposta no Museu de Arte Antiga de Lisboa…
Não vou desenvolver aqui mais factos que fizeram a importância histórica da nossa Vila Real, deixando apenas o recado prometido à futura Câmara Municipal e à ADPHCCA (Associação de Defesa do Património Histórico-Cultural do Concelho de Almeirim).
Num tempo de fácil divulgação e meios diversos, como é possível estar por fazer um desdobrável sobre a importância histórica de Almeirim, para conhecimento generalizado dos Almeirinenses e dos milhares de visitantes gastronómicos que nos visitam todos os dias???
Como é possível vivenciar a “Sopa de Pedra” como atração maior sem fazer simultaneamente a divulgação histórica e cultural desta terra???…coisa que qualquer cidade tem, mesmo sem a nossa riqueza histórica. Recordo a Exposição na Biblioteca Municipal e folheto de divulgação da História de Almeirim feito em 1999.
O que é feito do prometido Centro de Interpretação ou Museu da História de Almeirim? Mesmo sem património físico visível sabemos com rigor as localização dos espaços e edifícios de referência que bem podiam ser assinalados com placas alusivas (aliás de acordo com as visitas guiadas que a ADPHCCA fazia…e que deixámos de ter notícia)?
Recordo que em 2011 foi constituída uma Comissão Comemorativa dos 600 anos do Paço Real (1411-2011) que pretendia erguer uma estátua de D.João I, fundador e que veio a editar um conjunto de postais sobre a História de Almeirim sem ter então o merecido apoio por parte da C. Municipal ou da ADPHCCA. Passaram muitos anos e até hoje verificamos que não foi dado um passo para concretizar tão nobre intento. Esperemos que este novo recado seja atentamente refletido pelos futuros responsáveis pela divulgação da História e Cultura de Almeirim. Última nota: A compra municipal da Horta d’ El Rei para estacionamento e espaço verde público deve fazer referência a D. Manuel e/ou D. João III que ali gozaram o seu Jardim e Pomar frente ao Paço Real. Atrás do altar/estação da procissão do Senhor dos Passos havia nesse espaço a Capela dos Apóstolos que dava nome à Rua dos Apóstolos (hoje Rua Miguel Bombarda), pelo que se tornam obrigatórias as escavações arqueológicas municipais para comprovar a sua anterior existência.
Elias Rodrigues