Nesta entrevista contamos a história de Vânia Moreno que começou no rancho por influência da mãe e, depois de alguns anos de interregno, decidiu voltar. Quando, na década de 90, teve que estudar para fora, Vânia ficou com um vazio por preencher…
Como e porque decidiste voltar ao Rancho?
Penso que nada é por acaso e, quando sentes que chegou a hora de fechar um ciclo de saudade, simplesmente vais. Desde que voltei a viver em Almeirim que tinha vontade de regressar ao rancho, contudo, a falta de disponibilidade com os filhos ainda pequenos era uma grande questão. Hoje, já me acompanham e adoram o ambiente que vivemos no folclore.
Quantos anos depois?
Após 30 anos voltei ao rancho, mais precisamente à Velha Guarda do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Almeirim, onde a minha mãe canta e onde me sinto em casa.
Ainda sabia os passos?
Direi que é como andar de bicicleta, basta algumas afinações, de coração ao peito e estás pronta para dar à chinela! Mas é engraçado que nem sempre dancei… Em 1983, quando entrei para o Rancho Infantil para cantar, sem saber ler nem escrever, foi minha mãe que me ensinou as cantigas e alguns passos de dança. O “mestre” Zé Maria Canolho, ensaiador na altura, colocava-me a dançar as modas que não eram cantadas e lá fui aprendendo os passos de dança. Aprendi também muito, observando. Quando chegava a casa, queria sempre colocar em prática o que aprendia e era na sala de estar que fazíamos o “ensaio” do Rancho.
Como foi recebida?
Senti-me em casa, em família…afinal, conheço muitos dos membros do Rancho da Velha Guarda de Almeirim desde criança. Importante, salientar que a minha mãe é a cantora e o meu irmão de coração, meu par. Não podia estar mais feliz!
Viu-se, no Festival da Sopa da Pedra, uma alegria nos olhos por dançar e em casa. Como foi?
Dançar trajada a rigor, na terra onde nasci e cresci é um sentimento que me transcende, especialmente, ao lado de pessoas que são como família. Naquela noite, estava emocionada e feliz pois o nosso Folclore está vivo e eu faço parte dessa história. Não consigo colocar em palavras, quando piso o palco vivo de corpo e alma todas aquelas músicas e isso vê-se na minha alegria e no pé firme dentro da chinela, é um sentimento que vivo intensamente e me reduz à minha humilde função de transmitir da melhor forma o que é o Folclore Ribatejano!
Quando era mais jovem foi para o Rancho por influência da tua mãe?
Acredito que sim pois também a minha mãe entrou com 9 anos de idade para cantar no Rancho. Seguindo o exemplo de minha mãe, também eu comecei por cantar no Rancho Infantil e, mais tarde, dançar no Rancho adulto. No entanto, penso que o tal “bichinho” de dançar e cantar já nasceu comigo através da herança genética. Diria que o Folclore influenciou toda a minha vida visto que, aos 10 anos de idade, tive a oportunidade de conhecer vários países tais como a ex-Jugoslávia, Turquia, França, Espanha e Portugal de norte a sul, influenciando, mais tarde, o meu interesse por Línguas e Viagens. Penso que foram estas vivências que ditaram a minha escolha profissional na área do Turismo e Hotelaria.
Na altura que deixou foi quando saiu de Almeirim?
Sim, em 1996 entrei na Universidade do Algarve no Curso de Turismo e a distância e a disponibilidade levaram-me a tomar essa difícil decisão, mas iniciava-se então outro capítulo da minha vida longe de Almeirim. Ficou um vazio por preencher…
Aos mais novos, que mensagem deixa sobre a participação neste tipo de iniciativas…
Aos mais novos digo que, estas sim, são as nossas verdadeiras tradições de que nos devemos orgulhar e marcar a diferença cultural que tanto nos distingue. Aprendam a amar quem fomos e quem somos para darmos continuidade a esta arte. Não podemos deixar morrer o nosso folclore e siga a dança…













