O incómodo da Democracia

Após a segunda guerra Mundial o mundo dividiu-se entre dois blocos antagónicos: as democracias e as ditaduras. Entre as democracias sempre existiram diversas variantes constitucionais, mas o fator comum foi sempre a realização de eleições livres e a pluralidade partidária. Entre o bloco das ditaduras também existiam diferenças de substância: a “ditadura pura e dura”, em oposição total aos valores democráticos (Coreia do Norte p. ex.);  as “ditaduras de partido único”, em que as eleições só servem para legitimar o partido do poder e as “ditaduras pseudodemocráticas”, com eleições, mas em que o poder instituído elimina sistematicamente os adversários políticos pela força ( recorrendo amiúde à prisão ou mesmo à eliminação física) ou por alterações legislativas que lhes limitem a ação e a liberdade. 

As modernas democracias implantaram-se principalmente na Europa e nos Estados Unidos e, aos poucos, espalharam-se por outros continentes. As ditaduras de partido único têm na China o seu modelo mais relevante. Entre as pseudodemocráticas, a Rússia de Putin é o mais paradigmático exemplar.

Portanto, fez sempre sentido a proximidade de valores democráticos e humanistas entre a Europa e os Estados Unidos, o chamado Ocidente. Como também não admirava a aproximação tácita entre os sistemas russo e chinês.

A invasão russa da Ucrânia e o conflito na Faixa de Gaza, vieram pôr o mundo às avessas e em causa a legitimidade do direito internacional e os mais elementares valores humanos. O recente endeusamento que o inconfiável e falso Trump faz do frio e maquiavélico Putin, não augura nada de bom para a Europa nem para a América. A Democracia incomoda-os e a Europa tem de acordar para a nova realidade.

Entretanto, Xi Jinping e os seus pares, assentes na sapiência da sua milenar cultura, esperam pacientemente…

Gustavo Costa – PS Almeirim