No dia 1 de setembro, António Féria entra oficialmente na reforma, mas o último dia de aulas foi já no final de julho. Termina assim uma carreira de mais de 20 anos a formar tenistas e pessoas.
Se tivesse que descrever estes últimos anos e a sua ligação ao ténis, como o faria?
António Féria: Descrevia como uma continuação do trabalho feito até agora, com a mágoa de terminar a atividade, mas com a consciência tranquila. Saber que, a quem iniciou e a quem continua aqui no ténis, transmiti alguns valores — não só o saber jogar ou melhorar a técnica, mas também valores fundamentais na formação pessoal – é gratificante. Aos novos, aos mais velhos… a todos.
Conseguia sempre encontrar tempo durante as aulas, para além do aspeto técnico, para passar essas mensagens…
Sim, penso que é primordial chegarmos ao aluno, ao praticante, não só como jogador, mas também como pessoa. Desde os mais novos até aos mais velhos, sempre procurei ter uma interação onde conseguisse passar esses valores. É importante perceber que não é só ganhar. Importa que sintam que participam, sim, se possível vencer, mas acima de tudo saber estar: saber ganhar, saber perder, saber comportar-se em campo.
Do que é que vai sentir mais saudades quando se reformar?
Talvez do início do ano letivo. É sempre a fase mais confusa, mas também aquela em que há novas inscrições, novos alunos e recomeça a transmissão da técnica do ténis. Vou sentir saudades disso. É uma altura difícil porque temos de conciliar com os horários escolares e, normalmente, o ténis fica sempre para o fim. Mas é gratificante ver que, com alguma ginástica, conseguimos encaixar miúdos e graúdos nos horários pretendidos.
Quais foram os melhores momentos que viveu nestes courts?
Gostava de destacar os primeiros torneios em que participámos, logo no ano seguinte ao início da escola, que começou em 2002. Em março ou abril de 2003 participámos nos primeiros torneios federados. Foi aplicar, na prática, o que andávamos a trabalhar. Estávamos “verdinhos”, mas foi muito gratificante ver o empenho dos miúdos. Inicialmente, só jogávamos ao sábado porque éramos eliminados cedo, mas depois já começámos a passar ao domingo.
Outro momento marcante foi uma vitória quase impossível da atleta Beatriz Fernandes, frente a uma adversária das Caldas da Rainha – uma exibição extraordinária. Recordo também um torneio em Évora, onde a minha filha Carlota chegou à final, vencendo adversárias melhor posicionadas no ranking.
E nunca esquecerei um torneio na Quinta da Beloura, em Cascais, onde a nossa participação não foi extraordinária em termos desportivos, mas foi muito elogiada. Pouco depois, o então vereador do Desporto, Pedro Ribeiro, mostrou-me um email dos responsáveis do clube a elogiar a nossa postura, a educação dos nossos atletas e a forma como nos apresentámos. Foi um momento especial. Não sei quem foi o autor do email, mas marcou-me.
Em termos de infraestruturas, esteve desde o início ligado a este complexo…
Sim, estes campos foram inaugurados em 2002 e têm vindo a ser melhorados. O piso foi renovado e, mais tarde, foram criados os campos de padel, o que valorizou muito o complexo.
Infelizmente, nunca conseguimos cobrir os campos, um desejo antigo de pais e alunos, mas que, devido ao elevado custo, nunca pôde ser concretizado pelo município.
Nos últimos anos ficou mais ligado à iniciação, ficando o José Rodrigues com a parte da competição…
Sim, a partir de 2007, quando o José Rodrigues começou a ajudar-me. Tinha feito uma cirurgia e, para o ténis não parar durante dois meses, convidei-o a colaborar comigo. A partir daí, ele ficou mais ligado à competição e eu concentrei-me mais na iniciação – incluindo algumas turmas de adultos, fosse para iniciação ou para manter a forma.

E agora, como vai ocupar os dias após o 1 de setembro? Já pensou nisso?
Claro que sim. Pretendo dedicar-me mais à família e descansar um pouco desta exigência de horários que a escola de ténis impunha. Mas não me desligo totalmente. Faço parte da secção de ténis da Associação 20 km de Almeirim e continuarei a colaborar, embora com menos frequência, em torneios e outras atividades.
Que mensagem gostaria de deixar aos atletas, pais e a todos os que se cruzaram consigo nestes mais de 20 anos?
Digo sempre: apareçam, tragam os miúdos a experimentar. Muitos não sabem se gostam do ténis até experimentarem. Podem perceber que não têm jeito para este desporto e seguir outro, mas é sempre importante tentar.
Além disso, é um desporto ao ar livre, num espaço muito agradável. Esta envolvência do parque é rara — tem aspetos menos bons, como as folhas nos campos, claro, mas o ambiente é único. Quem vem aos torneios percebe que estamos num local paradisíaco.
O meu apelo é esse: venham, tragam os mais novos e os mais velhos, e cá estaremos para vos receber — tanto na escola municipal de ténis como na secção dos 20 km.
E há também agradecimentos, certo?
Sim, não queria deixar de agradecer – e peço desculpa se me esqueço de alguém.
Primeiro, à minha família, pela compreensão e apoio em todos os fins de semana em que estive ausente para acompanhar atletas ou torneios. Depois, ao município, que sempre me apoiou e me deu condições de trabalho. À secção de ténis dos 20 km de Almeirim, onde todos os presidentes que passaram me apoiaram incondicionalmente.
E também ao jornal O Almeirinense, que desde a primeira hora tem acompanhado o ténis em Almeirim.
A todos, o meu muito obrigado.