Vimos anteriormente alguns aspectos relativos ao achamento do Brasil, em 1500, por Pedro Álvares Cabral: a sua divisão em capitanias, doadas pelo Rei a doze donatários, todos eles com posses para custear a empresa da sua colonização; as relações com os índios, quase todos antropófagos; a chegada em 1538 dos primeiros escravos para os engenhos de açúcar.
Em 1548 é instituído um Governo Central para a supervisão das capitanias. O primeiro Governador será Tomé de Sousa, que com um exército de mil homens fará a sede colonial em Salvador. Em 1552 surge a diocese e o seu primeiro bispo D. Pêro Sardinha, pessoa conflituosa e em litígio permanente com os sacerdotes jesuítas. Em litígio com os missionários jesuítas, porque estes no seu modo de cristianizar mais facilmente os índios, de quem eram protectores, usaram não só os seus hábitos nativos em cantos litúrgicos, como rezavam o Padre Nosso ao som da maraca, e nas missas trocavam o vinho por aguardente índio, e, até a hóstia, era feita de farinha de mandioca. Chamado o conflituoso Bispo a Lisboa, o navio vai naufragar pouco depois, salvando-se este e mais alguns que, capturados na praia, foram devorados no espeto pelos índios caetés, e porque conhecedores os índios das relações pouco amistosas do Bispo com os missionários jesuítas, mereceu este uma cerimónia especial e seguramente que dos seus ossos longos foram feitas as tradicionais flautas índias.
Em 1580 a Holanda ocupará o Nordeste brasileiro. A 26 de maio de 1640, será D. Jorge Mascarenhas, marquês de Montalvão, nomeado o primeiro Vice-rei para o Brasil. Este iniciará conversações para a retirada dos holandeses, após estes serem derrotados nas duas batalhas de Guararapes. Sairão em 1654, mas para uma retirada completa, deixando todos os seus canhões, Portugal pagou milhões de cruzados e cedeu os territórios de Cochim e Cranganor no Sul da Índia. Ainda nesta primeira metade do século XVII, vai-se iniciar o desbravamento e a colonização da Amazónia. Terá o seu ponto alto em 1637 com Pedro Teixeira, que chefiará uma expedição com 45 canoas, 70 soldados e 1.200 índios, que subirá o curso do rio Amazonas, ligando Belém a Quito, no Equador. Serão delimitadas as fronteiras onde, a mando do Marquês de Pombal, serão erguidos sete fortes em granito levado de Portugal.
No final da década de 1590, negros fugidos da escravidão, associados a colonos portugueses marginalizados ou soldados desertores, iniciam a fuga para a selva, onde criavam os seus “quilombos” (comunidades). O mais famoso destes “quilombos”, foi o de Palmares, que existiu quase um século. Quando liderado por Zumbi, na década do 90 do século XVII, este por diversas vezes enfrentou as autoridades, ficando tal afronta conhecida pela Guerra dos Palmares. A 20 de Novembro de 1695, foi preso e executado. Por ordem do Governador Caetano Melo e Castro foi a sua cabeça exposta em praça pública da cidade de Recife, até completa decomposição, visando desmentir a crença da população sobre a lenda da imortalidade de Zumbi.
A partir de 1680, por lei, determinava-se a liberdade dos índios. Nos finais do século XVII, oriundos de uma família mestiça de sangue índio, destacar-se-ão dois irmãos que adoptarão o apelido de Gusmão e serão confiados aos cuidados da Companhia de Jesus. O mais novo Alexandre de Gusmão, irá distinguir-se como estadista em diversos cargos diplomáticos na Europa, chegando a secretário pessoal do Rei D. João V, enquanto Bartolomeu, o irmão mais velho, distinguir-se-á como um dos mais eminentes cientistas do seu tempo, tendo sido o inventor da “passarola”, o primeiro aeróstato funcional da História.
No século XVIII serão muitas as quezílias e rebeliões entre portugueses do Brasil e reinóis, tendo sido notórios os conflitos provocados quer pela fabricação, já melhorada da cachaça que levou à redução da produção do açúcar e na concorrência aos vinhos do Reino, quer devido à exploração de ouro e diamantes, quer ainda pelos pesados impostos, chamados de “quinto”, isto é, um quinto do valor, e até pelas ideias liberais vindas de França.
Em1763 a capital é transferida de Salvador, centro económico açucareiro, para o Rio de Janeiro, agora porto de escoamento do ouro e diamantes. Nesta altura inicia-se a libertação do escravo mediante a compra da carta de alforria.
O Tratado de Fontainebleau em 1807, entre a França e Espanha, vai definir a conquista e partilha de Portugal. Perante uma invasão do exército francês ordenada por Napoleão Bonaparte, a Família Real e criadagem mudam-se para o Brasil a 29 de Novembro de 1807. Em navios portugueses e ingleses acompanham-na um total de 10 mil famílias ilustres. O Brasil vai viver grandes transformações nas suas estruturas económicas e administrativas, pondo fim à Inquisição. Em 1815 passa a designar-se de “Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves”. E porque agora reino, D. João querendo agradar às elites do Brasil não se fartou de distribuir títulos nobiliárquicos e prebendas, fazendo nascer do nada 28 marqueses, 8 condes, 16 viscondes e 21 barões, algo nunca acontecido em toda a História da Monarquia Portuguesa.
O rei regressa a Portugal em 1821 por convocação das Cortes devido à Revolução do Porto de 1820, ficando no Brasil seu filho D. Pedro, como regente. Este quando foi baptizado, recebeu logo o prefixo honorífico de “Dom”, coisa rara, e 18 nomes, chamando-se assim: Dom Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon. D. Pedro era epiléptico, de fácil irritabilidade e cólera, que satisfazia sem reservas os seus apetites sexuais, chegando ao desplante de apresentar à esposa, a Rainha D. Leopoldina de Áustria, as próprias amantes, como se fossem castas donzelas. Este Príncipe Regente não acatando as chamadas da Corte para regressar a Portugal, vai proclamar a independência do Brasil em 1822 e pelo Tratado de Paz, Amizade e Aliança de 29 de Agosto de 1825, Portugal recebe o pagamento de 2 milhões de libras para pôr fim às reclamações então surgidas. Pelo artigo 3º do Tratado D. Pedro promete não aceitar adesões de quaisquer colónias portuguesas ao seu Império, pois adivinhavam-se as pretensões sobre os territórios em Angola, onde a maioria das chefias eram portugueses do Brasil. Após mais de 320 anos findava a presença dos portugueses na América.
Cândido de Azevedo