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Opinião

ALMEIRIM – Arquitetos do Paço e Mestres de Obras

Por: Inês Ribeiro 23 de Novembro, 2025 2 Minutos de Leitura

A designação “Arquiteto ou Mestre de Obras” nem sempre foi usada ao logo do tempo. Aliás os desenhos da arquitetura de qualquer edifício importante (Paço Real, Palácio, Casa Senhorial, Convento ou Mosteiro, Catedral, Igreja, Aqueduto ou outra obra relevante podiam ser realizados por um artista, pintor ou escultor, que dominasse a geometria e o desenho. Até jovens próximos da Corte ou de casa Nobre, através do estudo e aprendizagem no acompanhamento de obras, ao mostrar as suas qualidades artísticas e conhecimentos geométricos, podiam ser chamados a apresentar aos mestres  propostas com eventuais inovações. Pensemos como exemplo numa “Planta”, o desenho horizontal que organiza os espaços conforme as suas funções, as alturas e abertura de janelas, as coberturas e abóbadas nervuradas (medievais, góticas, renascentistas ou de estilo diverso).

Ao longo da história, todos os reis portugueses mandaram edificar obras régias ou religiosas, escolhendo os “Arquitetos ou Mestres de Obra” da sua confiança. Assim aconteceu com o Paço de Almeirim (1411-1424) a partir do reinado de D. João I, seu Fundador. Sabemos que na sequência da vitória de Aljubarrota  sobre Castela(1385) mandou construir o Mosteiro da Batalha, a Igreja de Santa Maria da Vitória cujo traçado geral abobadado foi atribuído ao Arquiteto Afonso Domingues (1330-1402) que dirigiu as obras até à sua morte, e continuado pelo Mestre irlandês David Huguet, autor da Capela do Fundador e das Capelas Imperfeitas. Não temos prova que fossem estes “arquitetos ou mestres de Obra” os responsáveis pelo desenho e feitura dos Paços de Almeirim e da   contemporânea Igreja Gótica de Santa Maria (iniciada em 1424), no entanto a referência ao estilo gótico e a análoga  designação de “Santa Maria” faz crer terem havido possíveis contactos e acompanhamento por eventuais colaboradores. Mas não vamos mais longe. Santarém, do outro lado do rio construiu inúmeras Igrejas e Conventos de traça gótica na mesma época e estilo, teve os mesmos “Arquitetos régios e mestres de obras”que Almeirim, seguidores do gótico tardio ou flamejante do Mosteiro da Batalha. Curiosamente foi no mesmo ano de 1411 que foi construído o Paço Real no Castelo de Leiria, e mais tarde a Igreja manuelina da Golegã com o traço do Arquiteto régio Diogo Boitaca. De acordo com os dados referidos no livro “Cronologia de Almeirim” do Dr. Jorge Custódio, podemos afirmar que em Almeirim (1424), Pero Martins era o escrivão de obras, João de Óbidos e Nuno Velho seus mestres carpinteiros. Em 1453 Gil Pires Resende era Contador da Câmara de Santarém e responsável pelo Paço de Almeirim. Já no reinado de D. João II foi nomeado seu 1ºAlmoxarife Álvaro Pires Borges (1490) e escrivão de almoxarife Antão Fernandes (1504-1515). No reinado de D. Manuel inicia-se a construção do Paço dos Negros (1512) e as grandes obras no Paço de Almeirim (1514/1518) quando D. Manuel Diogo Rodrigues era Almoxarife de Paço dos Negros e anteriormente de Almeirim. Em 1520 foi ampliada a Ermida e fundado o Convento da Serra quando Pedro Nunes era seu mestre de pedraria. Em 1527 D. João III inicia a construção do Hospital de Nª Srª da Conceição em Almeirim e em 1531 dá-se um grande terramoto que destrói parcialmente o Paço e a Capela Real obrigando a casa real a fazer obras de  reconstrução. Em 1541 as obras de reparação e manutenção do Paço de Almeirim ficam a cargo de JOÃO de CASTILHO (1470-1552), Arquiteto e Mestre de pedraria (escultor), que interveio em cinco das obras classificadas como Património da Humanidade pela UNESCO: no Mosteiro dos Jerónimos e Igreja de Santa Maria de Belém no claustro e Pórtico sul (em Lisboa), no Convento de Cristo em Tomar o Claustro de D. João III, no Mosteiro da Batalha, Mosteiro de Alcobaça e na Fortaleza de Mazagão. Foi dos mais importantes Arquitetos e escultores da época. Durante as obras do Paço teve casa em Almeirim. Foi sócio de Arquitetos como Diogo Boitaca, Diogo de Arruda, Nicolau de Chanterene, Diogo de Torralva, Jerónimo de Ruão na época do Gótico tardio, Maneirismo e Renascença. Como podemos registar eram chamados a Portugal os melhores artistas nacionais e estrangeiros. Toda a dinastia  de Avis vivia o tempo das descobertas e do comércio internacional de produtos exóticos, raros e caros. Registamos o manancial de Igrejas, Mosteiros e Conventos da época do gótico tardio ao Renascimento, em Santarém, capital do gótico: Igreja da Graça/Convento dos Agostinhos, Conventos de S. Francisco e de Sta Clara, S. João de Alporão, Igreja da Senhora do Monte, Igreja de Nª Srª da Conceição (Sé Catedral), Mosteiro de Almoster, Igreja de Sta Cruz, Igreja de Nª Srª da Piedade.

Em 1543, João de Castilho nomeia MIGUEL ARRUDA (1500-1563) mestre de Obras dos Paços de Almeirim, Santarém, Muge e Salvaterra de Magos. Além das obras no Paço de Almeirim foi Arquiteto autor da Capela Real de Salvaterra e da Igreja da Misericórdia em Santarém (maneirista e barroca), Arquiteto da Sé de Miranda do Douro e Convento da Graça (Évora), Convento do Bom Jesus de Valverde e Forte de S.Julião da Barra em Lisboa. Co-autor do Castelo de Évora-Monte, introduziu em Portugal o estilo renascentista, o Maneirismo e o estilo Chão.

Em 1552 D. João III, incumbe AMBRÓSIO RODRIGUES, Mestre de Obras, a efetuar obras de manutenção na Ermida de S. Roque e nomeia em 1565 ANTÓNIO MENDES, mestre de Obras dos Paços de Almeirim, Paços da Ribeira em Lisboa, Palácio Real de Sintra e Mosteiro da Batalha. FRANCISCO de HOLANDA, arquiteto e pintor de D. João III fez uma viagem de estudo a Itália, onde conheceu  Miguel Ângelo e recolheu importantes dados (escritos e desenhados) sobre a renascença italiana. Morou em Almeirim na rua de Muge, onde pintou alguns dos desenhos do seu álbum “Criação do Mundo” (in Arquivo do Mosteiro do Escorial, Madrid). Na sua obra “A Fábrica que falece à cidade de Lisboa” refere uma destruída ponte romana sobre o Tejo, entre Santarém e Almeirim, testemunhada por um pegão de tijolo vermelho no lugar da Torruja (Terrugem). FILIPE TERZI, (1520-1597) foi arquiteto e engenheiro militar italiano que trabalhou em Portugal nos reinados de D. João III e D. Sebastião, que acompanhou na jornada de Álcacer Quibir. Foi então feito prisioneiro e porteriormente resgatado pelo Infante D. Henrique para voltar a Portugal. Nas Cortes de Almeirim(1580) acabou por ser aclamado o rei de Portugal Filipe II de Espanha, que então nomeou Filipe Terzi para coordenar as obras no Paço de Almeirim e a construir o Forte de S. Filipe em Setúbal. Foi contemporâneo e sócio de João de Castilho, Diogo de Arruda, Baltazar Álvares e Juan de Herrera. O novo rei incumbiu FILIPE TERZI e JUAN HERRERA (famoso Arquiteto espanhol,que projetou a construção do magnífico Mosteiro do Escorial, em Madrid), de recolherem as Plantas e desenhos de todos os Paços Reais de Portugal. Infelizmente não encontraram os desenhos do Paço de Almeirim que eu próprio procurei exaustivamente nos arquivos históricos de Simancas (Norte de Espanha) e no Mosteiro do Escorial sem resultado. No início do seu mandato o Rei Filipe II nomeou igualmente BALTAZAR ÀLVARES, como Mestre de Obras dos Paços de Almeirim, Santarém, Salvaterra de Magos e Mosteiro da Batalha . Foi arquiteto co-autor com Juan Herrera e Filipe Terzi no Mosteiro de S. Vicente de  Fora e da Igreja de S. Roque (Lisboa). Curiosamente esta Igreja tem o mesmo desenho e dimensões do último paredão do Paço de Almeirim demolido em 1889 conforme testemunha fotografica tirada na ocasião. Em 1601 o Rei Filipe atribui uma significativa provisão para obras de recuperação dos Paços de Almeirim, Convento da Serra e Muge. De 1610 até 1640 registamos que Bartolomeu Rodrigues era mestre de carpintaria, João Rodrigues, António Gonçalves e Atanásio Barroso eram Mestres de pedraria e MATEUS DO COUTO, Mestre de Obras. Com D. João IV  (Restauração de Portugal) é reconhecido o “Palácio, Castelo e rico Hospital de Almeirim” (na obra “Poblation General de Espana” de Mendez Silva). Em 1649 SEBASTIÃO da COSTA é nomeado mestre de Obras de carpintaria nos Paços de Almeirim, Salvaterra e Vila Viçosa e em 1664 MATEUS do COUTO (sobrinho) Mestre de Obras dos mesmos Paços,sucedendo-lhe MANUEL do COUTO  em 1689.. Já no reinado de D. JoãoV verifica-se estar o Paço de Almeirim meio abandonado,sem reparações. Em 1734 é designado CUSTÓDIO VIEIRA como Arquiteto das Obras no Paço de Almeirim, Paço de Sintra e Mosteiro da Batalha, sucedendo-lhe CARLOS MARDEL  Arquiteto Régio das mesmas obras, co-autor do Aqueduto das Águas Livres (com João Frederico Ludevice e Reinaldo dos Santos), Mosteiro de Santa Clara-a-Nova em Coimbra onde está sepultada a Rainha Sta Isabel. Foi um dos principais arquitetos da reconstrução de Lisboa pós Terramoto 1755. D. José I visitou Almeirim, anos depois, para verificar a degradação do Paço e a devastação da coutada que sofrera um grande incêndio. Sem condições de habitabilidade no Paço aposenta-se em casa de D. Gastão José da Câmara Coutinho. Era então Mestre de Obras MIGUEL ÂNGELO BLASCO e Almoxarife e couteiro João Mota Cerveira (1764). Em finais do século XVIII por decisão de D. Maria I o Príncipe Regente D. João (VI) manda demolir o que restava do Paço de Almeirim.

Localizado numa região sem pedreiras, e por isso construído com materiais pobres (tijolo e madeira), justifica-se a sua degradação progressiva e atual inexistência de ruínas, ao contrário da generalidade das Igrejas e Mosteiros góticas talhados em pedra.

Elias Rodrigues

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