Vou contar uma pequena história

 Em novembro de 2017, uma princesinha de laçarote chegou ao Colégio Conde Sobral, com 7 meses e,  hoje com 6 aninhos, está prestes a deixar esta Instituição para seguir novos passos! E, o nosso coração volta a estar muito apertadinho…. É com muito carinho e ternura que falo deste colégio que, acolheu Maria Rita com muito amor, desde o princípio. 

O Colégio quando recebeu a Maria Rita, iniciou um novo caminho de grande aprendizagem em conjunto connosco familia. Tem sido um caminho exigente mas, também de grandes conquistas e de grande entrega para todos os que caminharam a nosso lado. Não posso deixar de referir as auxiliares Ana Costa, Patricia Antunes, Catarina Nunes, Beatriz (para nós a Bia), Margarida Almeida (que ainda sem ter a sua maioridade aceitou o desafio e foi voluntária durante alguns meses), nos últimos dois anos a  auxiliar Mariana Bernardo e este ano com Elisabete Hortelão; como educadoras Ana Margarida (no primeiro ano letivo) e desde 2018 a Eunice e por ultimo, e não menos importante,  o pilar de toda esta estrutura a Diretora Joana Homem.

No segundo ano (18/19) de frequência no colégio recebemos o diagnóstico da Maria e, foi muito importante o apoio que recebemos de toda a equipa pedagógica. Não é fácil termos o “preto no branco” de que afinal a nossa filha tem necessidades especiais, na verdade é como dar à luz novamente, ter outro parto.  É um parto mais dolorido, muito mais longo e sofrido. É uma dor que anestesia nenhuma, por mais eficaz e potente que seja, consegue amenizar. Não há obstetra ou equipe médica, por mais qualificada que seja, que possa tornar este parto mais tranquilo, menos traumático. Talvez seja o “parto” mais difícil de nossas vidas… Ninguém está preparado para ter um filho especial. Na verdade, costumamos ter receio de que isso possa acontecer. Ninguém sonha com um filho com necessidades especiais, diferente. Quando o diagnóstico chega, apesar de já estarmos conscientes da realidade, mas ver escrito, é como tirarem o tapete debaixo dos nossos pés, é jogar por terra todos nossos sonhos e expectativas.

A par destas incertezas, é nos dito, principalmente nas consultas de acompanhamento, é que devemos ser fortes, que devemos acreditar, incentivar e estimulá-la …mas como fazer tudo isso?  O que fazer com a nossa própria DOR, com nossos próprios medos e dúvidas? Fragilizada e ansiosa, descobri que tinha de lidar com uma situação que me pertence e que desconheço por completo. Tive que reaprender a ser mãe, na conceção mais abrangente da palavra, de acordo com as novas especificidades de Maria. Nesta fase,  é muito importante termos um apoio, alguém que nos dá a mão… São muitas as perguntas que nos vem à cabeça: Qual é o caminho? Como posso me tornar a mãe que a minha filha precisa? A equipa pedagógica do colégio Conde Sobral e a equipa da Intervenção Precoce de Almeirim foram a minha tábua de salvação ndxtd  momento em que parecia  naufragar no meio  de um mar de dor, desespero, angústia e falta de esperança. 

Há medida que a Maria Rita foi crescendo e transitando de sala, o Colégio foi adaptando os espaços.Perto das salas por onde passou e atualmente se encontra, foi criada uma sala multifunções para as terapias, a higiene e o seu período de descanso. Esta sala foi montada com todos os utensílios necessários para dar resposta às várias rotinas do dia a dia da Maria. A sala onde está afeta também o espaço foi adaptado permitindo que os seus equipamentos circulem e que a Maria Rita possa participar em diversificadas atividades através dos sentidos e partilhar momentos de socialização com os pares. Os adultos que acompanham a Maria Rita aprenderam a posicioná-la e a fazer as transferências entre os diversos equipamentos ao longo do dia. Todo este trabalho, dedicação, cuidado foi delineado pela Ed. Eunice e por tudo isto, e não só, as próximas palavras vão para ela:

Nesta altura, em regra geral os pais agradecem às educadoras o simples fato de ensinar a dizer “se faz favor”, “obrigado”, o arrumar os talheres quando acabam de comer e o lavar as mãos… Mas, enquanto pais da Maria Rita queremos agradecer o simples fato por ter acompanhado a nossa princesinha de Laçarote por ter aprendido a conhecê-la como a palma das suas mãos, por ter aprendido a interpretar cada som, cada gesto, cada olhar que têm um sentido, uma necessidade de resposta diferenciada.  Dia a dia foi reconhecendo as suas necessidades, a sua forma especial de se exprimir e comunicar, for aprendendo através do seu olhar e do seu movimento as suas necessidades de conforto e desconforto, dor e alegria. Obrigado pela satisfação  com que recebeu a “sua” Maria Rita todas as manhãs.

Não posso deixar de agradecer à auxiliar Mariana que teve mais os dois últimos doi anos:

Sem reservas aprendemos a lidar uma com a outra, o que foi sem duvida, alguma, a chave mágica que abriu a porta para  caminho desta amizade! Obrigada por todas as fraldas que mudaste.  Obrigada pelos almoços que ajudaste a dar, pelos lanches, pela paciência para quando ele não queria comer, quando estava mais doentinha. Pelo colo que deste, pelos beijinhos, festas e abraços que sei que lhe deste todos os dias. 

Obrigado a TODOS, pelas brincadeiras e jogos que fizeram todos juntos, pela verdadeira INCLUSÃO! Foram 5 anos de verdadeira inclusão. Nem sabem o quanto me orgulho quando me perguntam:” Em que escola está a Maria Rita?”, “ E, como é a integração dela?” . Após descrever e de explicar o dia-a-dia da Maria  no colégio vem as perguntas e exclamações da praxe: “É uma escola de ensino especial? Não! É possível?”. E, sem rodeios respondo: É claro que é possível, basta querer e fazer questão inseri-la no mundo normal.  E foi esta a vontade do Colégio Conde Sobral, através de um olhar especial, o que realmente foi fundamental e fez toda a diferença. Olhar especial foi não desistir, lutar,  pesquisar,  tentar… foi mergulhar nesse universo e ir além. Fou se aprofundar. Querer e poder caminhar nesta estrada 

Tenho consciência que não sou uma mãe fácil… de todo! E, no início, não foi fácil (ainda hoje tenho dias menos bons) pois ter uma filha especial é algo único que me acordou para um novo mundo.  É como se tudo o que eu tivesse ouvido, tudo o que me ensinaram no primeiro filho não existisse. Ser mãe especial É SER ESPECIAL! É sentir que somos mais, é querer mais, é fazer mais… tudo tem que ser potencializado para obtermos resultados gratificantes com a Maria. Não importa, sinceramente, se a doença da Maria não tem cura. Todas as minhas lutas são válidas. Não importa se a resposta é lenta o que realmente importa é AGIR e ACREDITAR naquilo que está sendo feito. 

Eu adoro SER MÃE ESPECIAL… E, diga-se de passagem, não trocaria a minha filha por nenhuma outra, hoje não me vejo sem ela, ao inicio deste texto escrevi  “é jogar por terra todos nossos  sonhos e expectativas” agora escrevo Ritinha trás com o seu laçarote mágico OS MEUS SONHOS E TODAS MINHAS EXPECTATIVAS DE VIDA! Se hoje escrevo e penso assim é porque tive uma equipa maravilhosa do Colégio a par com a equipa da Intervenção Precoce de Almeirim. E resumindo, OBRIGADO, por me ajudarem ACREDITAR e acreditarem connosco!

Mãe, Ana Rita Cardigos