Durante quatro décadas, Carlos Leitão tem moldado o chão de Almeirim. Calceteiro da Câmara Municipal desde 19 de fevereiro de 1985, carrega nas mãos a memória de três gerações que transformaram a calçada em herança familiar. “Comecei porque o meu pai já cá trabalhava. Ele falou com o chefe da época e vim para cá. Aprendi com ele e fui ficando até aos dias de hoje”, recorda.
O ofício de calceteiro faz parte da sua vida desde muito cedo. Cresceu numa família em que a arte de fazer calçada sempre esteve muito presente. “O meu avô paterno, também trabalhava neste ramo. Do lado do meu pai sempre houve calceteiros”, conta. O gosto nasceu naturalmente, primeiro como aprendiz, onde teve oportunidade de errar, corrigir os seus erros e melhorar. Dessa forma, foi ganhando força de vontade até dominar a técnica.
Hoje, Carlos Leitão é um dos poucos que mantém viva a tradição portuguesa. “Há muita gente a fazer calçada, mas não fica tão perfeita. Mais tarde temos de ir reparar, porque arranca-se tudo. É importante saber fazer bem, colocar bem a calçada”. O calceteiro da Câmara Municipal admite que se trata de uma profissão exigente, feita de paciência, destreza e resistência física.
Contudo, a herança que tanto valoriza parece ameaçada pelo tempo. “Eu acho que o trabalho de calceteiro um dia vai acabar, agora sou só eu e este senhor”, refere ao olhar para o colega, que por motivos de saúde encontra-se a trabalhar de forma mais condicionada. A falta de jovens interessados preocupa Carlos Leitão. “Hoje ninguém quer aprender. Acho que há falta de motivação. Se existisse algum incentivo a nível monetário já era uma ajuda”, afirma convicto.
Apesar disso, fala do seu percurso com orgulho. Para ele, cada pedra colocada é mais do que trabalho, representa a identidade de uma cidade. “Aprende-se muito ao trabalhar com desenhos e padrões na calçada. Um dia este ofício vai acabar, mas enquanto durar, vamos dando o nosso melhor”, afirma movido pelo sentimento de realização profissional.
No dia a dia, Carlos Leitão descreve a sua rotina como simples, mas marcada pela exigência do detalhe. “É um trabalho onde é preciso estar muito concentrado para não cometer erros”, explica. No fim de uma obra, ao observar o resultado final, a felicidade é imediata. O calceteiro sublinha que “quando as coisas correm bem, nós ficamos contentes e os nossos superiores também ficam satisfeitos”.
Os desafios fazem parte da profissão. “Às vezes aparecem-nos situações que temos de resolver. Há situações difíceis, mas tentamos dar o nosso melhor. As bases que já temos ajudam-nos a dar a volta”, esclarece.
Carlos Leitão olha para trás e vê um percurso sólido, dia após dia, durante 40 anos. Não sabe se alguém dará continuidade ao seu legado, mas enquanto lhe for possível, vai continuar a trabalhar nas ruas da sua cidade. “Para mim sempre foi muito gratificante seguir os passos do meu pai e do meu avô, deu-me um rumo e fez de mim aquilo que sou hoje”, conclui.















