13 de Setembro 2025 foi dia grande para Muge (que já foi freguesia de Almeirim), pois foi inaugurado um núcleo museológico sobre os Concheiros de Muge, classificados como Monumento Nacional. Foi assinalável o envolvimento e adesão popular, que encheu o Salão da Casa do Povo na inauguração do Centro Interpretativo dos Concheiros de Muge. Da responsabilidade científica da Universidade do Algarve, este Centro nasceu na Casa do Povo numa feliz e frutuosa colaboração com a Câmara Municipal de Salvaterra de Magos e a Casa Cadaval. Tivemos assim uma sala cheia de conterrâneos, de arqueólogos e gente interessada neste Património único.
A ARQUEOLOGIA estuda as sociedades humanas desde a pré-história através da acumulação nos chamados “CONCHEIROS” de conchas de moluscos, espinhas de peixes (proximidade de cursos de água), ossos de animais de caça (veados, javalis, coelhos e aves) que serviam de alimentação a comunidades, além de objetos e utensílios quotidianos (peles, cestos de vime ou madeira), que revelam a permanência temporária de comunidades humanas nos tempos pré-históricos (entre 8 000 a 7000 anos A.C.- período Mesolítico).
Através de sílex e rochas duras, acendiam fogueiras e construíam abrigos, com peles e colmo para proteção do frio e chuva, em geral circulares. Fabricavam pedras pontiagudas para flechas de caça, facas cortantes e outros objetos de uso cotidiano. A existência de conchas furadas para colares e pulseiras manifestam já o gosto por expressão decorativa e artística. Demonstravam ter particulares práticas nos enterramentos.
Os Concheiros de Muge foram descobertos em 1863 pelo Geólogo Carlos Ribeiro e constituem o maior complexo do período mesolítico da Europa, daí a sua importância nacional e internacional. A acumulação de conchas ao longo de várias gerações chega a uma profundidade média de 4 a 5 metros, pelo que a continuidade das escavações poderá ter muitos dados ainda a revelar.
Nota comparativa com a Arqueologia no concelho de Almeirim:
No concelho de Almeirim (perto da Azeitada) existe um semelhante Concheiro, chamado de Vale da Fonte da Moça, que a CMAlmeirim não assinalou nem deu a conhecer a qualquer equipa de arqueólogos, à semelhança da CM Salvaterra/ Muge e da Casa Cadaval. A falta de sensibilidade para a cultura e património cultural é notória de tal modo que é de referir o desleixo a que foi dotado, como outro exemplo, o Paço da Ribeira de Muge no lugar dos Paços Negros, sem respeito pelo espaço envolvente que constituía o pomar – horta do mesmo e destruição progressiva do seu muro envolvente por desprezo absoluto.
Classificado como imóvel de Interesse Concelhio, não se entende que não se cuide da sua reabilitação parcial dado que, além do progressivo abandono, existe no local a compartimentação original que permitiu o seu levantamento topográfico e feitura de uma maquete de reconstituição do Paço, construído por D. Manuel em 1512.
Será que a CMAlmeirim vai continuar a ignorar o património existente à vista de todos? Não tem um historiador com formação para intervir? Será que vai continuar a alimentar divisões mesquinhas entre a “gestão” do Rancho folclórico local e a “Academia” que organizou palestras e exposições sobre o assunto, protegendo e delimitando o interior do Paço como área patrimonial a preservar e defender? E a Junta de Freguesia de Fazendas de Almeirim não tem uma palavra, uma ideia, uma intervenção, uma única pessoa em defesa e divulgação da cultura e do seu património cultural? Triste figura de ignorância e incultura. Aprendam com o exemplo de Muge!!!
MUGE no mapa internacional
É notável como uma pequena aldeia, que o país desconhece, se tornou local de visita e interesse nacional e internacional. A inauguração do Centro de Interpretação dos “Concheiros de Muge” classificado como Monumento Nacional, pôs a aldeia nas primeiras páginas.
Elias Rodrigues