Com o início do outono regressa também o aumento das infeções respiratórias, que afetam todas as idades – das crianças até aos idosos. Gripes, constipações, bronquites e pneumonias voltam a circular, e o seu impacto pode — felizmente — ser reduzido com prevenção, vigilância médica e hábitos saudáveis. E no centro dessa prevenção está a vacinação.
A vacinação continua a ser a medida mais eficaz para evitar complicações e internamentos. Portugal tem motivos para se orgulhar: mais de 98% das crianças recebem todas as vacinas recomendadas no primeiro ano de vida, segundo o Programa Nacional de Vacinação. Entre os adultos, a adesão também é elevada — cerca de 77% das pessoas com 65 ou mais anos e mais de 80% das que têm 85 ou mais anos foram vacinadas contra a gripe em 2024/25, valores que colocam o país entre os melhores da Europa, segundo a Direção-Geral da Saúde e o Centro Europeu de Controlo de Doenças.
Como imunoalergologista, considero as vacinas a maior invenção da humanidade e, ironicamente, vítimas do seu próprio sucesso. Ao eliminarem muitas doenças graves, tornaram-se quase invisíveis, levando alguns a esquecer o seu valor. As reações adversas são, na maioria, previsíveis: febre ligeira, dor no braço ou mialgias, resultado da resposta inflamatória transitória que acompanha a ativação imunitária. As reações alérgicas graves são excecionais, estimando-se em cerca de um caso por milhão de doses. O perfil de segurança é continuamente monitorizado e o benefício ultrapassa em muito o risco: as vacinas salvam vidas todos os dias e permanecem o pilar mais sólido da medicina preventiva moderna.
Na campanha 2025/2026, a vacinação contra a gripe é gratuita para pessoas com 60 ou mais anos, crianças dos 6 aos 23 meses, grávidas, profissionais de saúde, cuidadores, residentes em lares, doentes crónicos e imunodeprimidos (a partir dos 6 meses). As orientações da DGS para esta época incluem ainda o uso de formulações de dose elevada em pessoas com 85 ou mais anos e residentes em estruturas residenciais para idosos, para reforçar a resposta imunitária nestes grupos mais vulneráveis.
A vacinação contra a COVID-19 mantém-se integrada na mesma campanha, sendo recomendada para pessoas com 60 ou mais anos, grupos de risco com comorbilidades, grávidas e profissionais de saúde. As vacinas estão disponíveis gratuitamente nos centros de saúde e nas farmácias comunitárias.
Em 2025 chegam também novas estratégias. A vacina contra o vírus sincicial respiratório (RSV) está agora disponível para pessoas com 60 ou mais anos e adultos com doenças crónicas, reduzindo o risco de infeções respiratórias graves. Existe também uma formulação indicada na gravidez, que protege o recém-nascido nas primeiras semanas de vida. Nos lactentes, a imunização com o anticorpo monoclonal nirsevimab é administrada antes da época viral, oferecendo proteção passiva durante cerca de cinco meses. Além disso, a vacinação contra o pneumococo é recomendada para adultos com 65 ou mais anos e, em idades inferiores, para pessoas com doenças respiratórias, cardíacas ou imunossupressoras.
O controlo das doenças alérgicas é outro pilar essencial para atravessar o inverno com tranquilidade. A asma e a rinite alérgica, quando bem controladas, reduzem o risco de exacerbações e complicações respiratórias associadas. Garantir a adesão à terapêutica, usar corretamente os inaladores e manter acompanhamento médico regular são passos simples que fazem uma grande diferença.
Em alguns casos — como em crianças ou adultos com infeções respiratórias repetidas — pode ser considerada, sob orientação médica, uma imunomodulação inespecífica que estimula o sistema imunitário e reduz a frequência das infeções. Trata-se de uma abordagem complementar e personalizada.
As medidas de higiene e ambiente mantêm um papel central: lavar as mãos com frequência, ventilar os espaços interiores, tossir para o antebraço, evitar contactos próximos quando doente e reduzir a exposição ao fumo do tabaco. Pequenos gestos que, somados, diminuem a transmissão de vírus e protegem os mais vulneráveis.
A par da vacinação e da vigilância médica, há três pilares fundamentais para um sistema imunitário equilibrado: sono adequado, alimentação saudável e exercício físico regular. Dormir o suficiente favorece a regulação das respostas imunitárias; uma dieta variada, rica em frutas, legumes e proteínas magras, fornece os nutrientes essenciais; e a atividade física moderada contribui para a resistência às infeções e para o bem-estar geral.
O inverno é inevitável, mas as suas consequências podem ser controladas. Vacinar-se, seguir as recomendações médicas e manter hábitos de vida saudáveis continuam a ser as formas mais eficazes de atravessar a estação fria com segurança, saúde e — se possível — sem aquele vizinho que insiste em dizer “isto é só uma constipaçãozinha”.
David Pina Trincão – Médico Especialista em Imunoalergologia













