“Ganhar pelo Sporting é sempre saboroso”


Daniel Bragança somou, recentemente, o terceiro título de campeão nacional sénior. Não foi o ano perfeito porque o ribatejano voltou a lesionar-se com muita gravidade. Ao site Flashscore passou em revista estes 12 anos de leão ao peito. 

Daniel: 25 anos, três títulos de campeão. Este foi o mais saboroso?

Acho que foram os três. Ganhar pelo Sporting é sempre saboroso, não vou estar a escolher qual foi o mais saboroso. Acho que vou escolher os três.

Já lá vão 12 anos desde que saiu de Almeirim para a Academia. Nos seus melhores sonhos, pensava que aos 25 anos já tinha estes três títulos de campeão no bolso?

Era um sonho desde criança. Os meus avós e os meus pais levavam-me ao Estádio de Alvalade para ver o Sporting – esse já era um sonho de criança, ver o Sporting campeão. E a verdade é que o Sporting torna-se campeão quando eu estou na equipa principal. Se sonhar é bom, conquistar ainda é melhor. Jamais, nos meus melhores sonhos, imaginaria que o Sporting só seria campeão quando eu estivesse na equipa principal, mas a verdade é que essa foi a realidade. Fico feliz por todo o esforço que os meus avós e os meus pais fizeram para me levar ao Estádio José Alvalade. Nunca consegui festejar – festejava Taças, Taças da Liga – mas nunca festejei um campeonato como adepto. Hoje em dia, festejo como jogador e como adepto.

Foi um campeonato com muitas incidências, já lá vamos, mas também pautado pela regularidade do Sporting. Apenas duas derrotas em todo o campeonato, sete empates. O Sporting foi a equipa mais regular naquele que, na sua opinião, terá sido, nos últimos anos, o campeonato mais renhido em Portugal?

Sim, do que me lembro, acho que foi dos campeonatos mais renhidos que houve em Portugal. Só se decidiu na última jornada e duas equipas podiam ser campeãs ainda. Claro que podia cair para qualquer lado nesta fase, mas a haver um justo campeão, penso que seríamos – e fomos – nós. Estivemos muito mais vezes na frente, sempre no 1.º lugar, e acho que fomos justos vencedores.

Sporting campeão com três treinadores durante uma temporada, muitos problemas a meio da temporada onde a vantagem conseguida foi encurtada. Como é que vocês viveram esses momentos?

Foi difícil. Aliás, era impossível começar melhor do que começámos: foram 11 vitórias consecutivas em 11 jogos. Depois, com a saída do mister, as coisas começaram a abanar um bocadinho, perdemos dois jogos, andámos um bocadinho a desconfiar de nós, mas conseguimos aguentar o barco e seguimos em frente. A verdade é que as coisas começaram a melhorar outra vez e conseguimos ser campeões.

Há quem diga que, se o Rúben Amorim tivesse ficado, teriam sido campeões mais cedo. Lá dentro falaram disso ou não?

É impossível dizer uma coisa dessas. Não sabemos o que podia acontecer ou não, se conseguiríamos aguentar o ritmo ou não. Nunca vamos saber. Mas a verdade é que, independentemente do que aconteceu, conseguimos conquistar o campeonato. Às vezes, o que acontece é as equipas ficarem sem treinador porque as coisas estão a correr mal. Não me lembro muito de equipas que, a meio da época, fiquem sem treinador por as coisas estarem a correr muito bem. Às vezes, quando as coisas correm mal, vem outro treinador e as coisas começam a correr melhor. Aqui foi diferente: o choque foi outro. Perdemos um treinador que estava cá há cinco épocas, que mudou a história e a vida do Sporting. Foi um choque para nós. Aceitámos e compreendemos. Tal como há jogadores que sobressaem e saem em janeiro – e às vezes é difícil prendê-los cá – o treinador Ruben Amorim estava a fazer um excelente trabalho no Sporting, era muito cobiçado, já não era a primeira vez, e acabou por sair. É futebol. Foi um choque, mas o grupo aceitou bem. As coisas aconteceram e teve de ser assim.

Depois veio o João Pereira, não esteve muito tempo, e chega o mister Rui Borges, de quem se diz que tem uma capacidade de liderança muito forte, de unir o plantel. Foi aí que, depois de perder alguns pontos, sentiram que voltou o clique que vos permitiria ser campeões?

Sim, concordo. Depois da saída do mister Ruben, acho que não foi tanto por causa do mister João Pereira, foi mais o grupo, o choque. Ficámos um bocado desamparados, sem saber bem o que estava a acontecer, com dúvidas sobre como seria sem o mister. A verdade é que o mister, depois de tantas saídas importantes no grupo – como o Seba (Coates), o Paulinho, o Adán, que eram capitães – o Neto também… o grupo abanou um bocadinho. E o Amorim, no início do ano, fazia o papel de treinador e de capitão. Nunca sentimos a falta disso até ele sair. Quando vai embora, o grupo abana, e tivemos de puxar mais por nós. O Morten (Hjulmand) foi importante nisso. Acho que nem foi tanto por causa do João Pereira que as coisas começaram a correr mal, acho que o nosso psicológico abanou um bocadinho.

Quando a equipa não está bem é uma bola de neve. Lembro-me que começaram a surgir lesões atrás de lesões, depois os jogadores a querer voltar porque sentiam que o grupo precisava, e regressavam de lesões mais cedo do que o previsto e voltavam a lesionar-se. Tudo começa a ser uma bola de neve. Mas a verdade é que, quando o mister Rui Borges chega, trouxe-nos a calma, serenidade e confiança que o grupo precisava naquele momento. Chegou na hora certa. Não teve uma vida fácil – as lesões continuaram – e depois, quando a bola de neve começa, é difícil limpar tudo de uma vez. O mister, não tendo um papel nada fácil, conseguiu superar todas as dificuldades que teve ao cair aqui de chapa e tem muito mérito neste campeonato. Apareceu na altura certa, quando o grupo mais precisava, e as coisas correram muito bem porque ele fez muito bem o trabalho dele e tem muito mérito nesta conquista.

Também soube adaptar o modelo de jogo da equipa aos jogadores que tinha. Isso acaba por também ser um sinal de inteligência do treinador, que onde estava tinha outro sistema de jogo.

Sim, ele trouxe a sua ideia, é normal, mas percebeu que tinha pouco tempo para treinar e explicar. O grupo já estava tão rotinado naquela tática, já jogávamos de olhos fechados, e acho que ele percebeu bem que não podia mudar tudo. Foi inteligente da parte dele e correu bem, conquistou o campeonato.

Deixe-me ir a dois momentos: o golo do Eduardo Quaresma contra o Gil Vicente. Como é que viveu aquilo?

Varri o camarote todo que estava à minha frente. Nós, que estamos de fora, sofremos o triplo, não há comparação. Foi a primeira vez que estive fora a lutar pelo campeonato e a ansiedade e a pressão são maiores. Sofre-se a triplicar, e estou a ser meiguinho. Foi inesquecível. Acho que o Edu devolveu-me a vida naquele momento. Eu já estava pouco crente, mas há jogadores que nasceram para estes momentos e ele nem sabia que tinha nascido para este. A verdade é que nasceu e devolveu-me a vida.

E o golo do Pedro Gonçalves no último jogo? Que aparece numa fase importante da carreira dele, depois de uma lesão, e marca um golo que não diria que é decisivo, mas escancara as portas do título.

Sim, é a história a ser escrita. Há coisas que já estão escritas, como ele disse. Eu andava sempre a dizer que o golo dele estava guardado para a Luz, que ia ser o golo do campeonato. A verdade é que falhei no estádio, porque o golo do campeonato foi em Alvalade, contra o Vitória SC. Desbloqueou a ansiedade que se vivia no estádio, e foi um golo para recordar para sempre. Vibrei com todas as minhas forças. Fico feliz por estes dois jogadores que apareceram em momentos decisivos da época.

Momentos em que assistiu do camarote fruto da lesão que teve, mas mesmo assim, participou em 29 jogos em todas as competições, marcou quatro golos e fez nove assistências. Sente que estava a caminho de uma das suas melhores épocas na equipa principal? Pelo menos os números indicam isso. Na época anterior, foram 47 jogos, cinco golos e quatro assistências. O que podemos esperar do Daniel Bragança na próxima temporada? Dar continuidade a estes números? Melhorá-los? Qual é a sua ambição?

É difícil prometer coisas nesta fase. Já passei por uma lesão grave, já sei o que custa e o tempo que demora a voltar à forma ideal, mas a verdade é que, tendo passado por uma e conseguido regressar a bom nível, isso dá-me ambição, crença e força para voltar ainda melhor. Estávamos a fazer uma excelente época coletiva e eu, individualmente, também estava a atravessar um bom momento, não apenas pelos números. A época estava a correr-me bem, mas aconteceu esta lesão. Não vou prometer nada, só posso prometer ambição, crença e força para regressar ainda mais forte do que da primeira vez.

“Sporting está no caminho certo para continuar a vencer”

O presidente e os jogadores já levantam três dedos, a pensar no “tri” na próxima temporada. Perante o atual quadro do futebol português e, tendo em conta o passado recente do Sporting, o clube teve de se reerguer. Acredita que este é o caminho certo para o Sporting voltar a vencer com regularidade?

Sim, estamos no caminho certo. A questão dos três dedos não é a pensar no “tri”, é apenas para aqueles que já ganharam três campeonatos. Mas sim, o Sporting está no caminho certo para continuar a vencer. Não é o Sporting que eu conheci há uns anos, estruturamente está diferente, muita coisa mudou e evoluiu no caminho certo e espero que assim continue porque este é o Sporting com que sempre sonhei e que eu quero voltar a ver.

Um Sporting que repete presença na Liga dos Campeões, num modelo completamente diferente. A ambição passa também por fazer melhor do que na época passada?

Passo a passo, sim. Estávamos a fazer uma excelente campanha, depois com tudo o que já falámos as coisas acabaram por alterar um bocadinho e, mesmo assim, conquistámos um lugar no play-off com o Dortmund, acabámos por perder, mas passo a passo. Começar a olhar para a Liga dos Campeões com outros olhos, com a ambição de querer chegar mais longe e esse é o caminho que o Sporting tem de levar – continuar a vencer internamente e a mostrar cada vez mais força na Europa. O mindset tem de alterar um bocadinho, tem de evoluir e estamos a caminhar para isso. O tempo o dirá, mas com as pessoas que trabalham cá e os jogadores que temos, acho que estamos num bom caminho.