A AD venceu as eleições, confirmando-se a boa intuição do Primeiro-Ministro quando as quis forçar.
Os resultados do passado dia 18 voltam a entronizam Montenegro, mas não lhe garantem vida longa, mas isso, para um sobrevivente como ele, não parece ser problema. Nunca será um garante de estabilidade porque é a instabilidade que o alimenta, um mestre dos truques na era das perceções.
Um líder que teve pressa em anunciar quantas deportações ia a AIMA executar este ano em período de campanha, mas que recomendou calma à Autoridade Tributária na cobrança de impostos.
Um líder que manda calar o Ministro da Economia quando fala em défice, sabendo já que os resultados macroeconómicos estão piores do que em 2024. Não deixo de estranhar que durante a campanha o PS não tenha sabido afirmar que o governo AD só soube ter excedentes quando governou com o orçamento do PS. Ou foi pura inabilidade de Pedro Nuno Santos ou a rejeição da mera sugestão de que Fernando Medina tenha sido um bom Ministro das Finanças.
Um líder que, sempre que revela mais uma informação a contragosto sobre a sua empresa familiar, deita mais fumo e adensa a desconfiança de que ali haverá fogo.
Um líder que nas televisões enche a boca de pensões e complementos sociais para idosos, mas quando se confronta in loco com a miséria dos pensionistas, encarna no arquiteto Taveira e reformula o famoso “estudasses!”
Luís Montenegro é, por todas estas razões e mais algumas, o príncipe perfeito da República Portuguesa. Concentra em si tudo aquilo que em Portugal se aprecia num político.
É como se fosse uma mistela resultante da liquefação do tacticismo de Costa, da ética de Sócrates, do sadismo de Passos, da sociopatia de Cavaco, adicionando-lhe um toping de azeite Carreira.
É imbatível. Nem o PSD o quis, tendo preferido Rui Rio em 2020, mas dele não se livrou. Nem os portugueses aprovam a sua governação, mas lá acabaram por meter a cruz, mais uma que agora terão de carregar.
Luís Montenegro combateu André Ventura imitando-o, nomeadamente nas questões da imigração, mas também na animosidade manifestada à comunicação social, ao parlamento e ao próprio Presidente da República.
Venceu Pedro Nuno Santos manietando-o desde o primeiro dia da anterior legislatura. Obrigou o líder socialista a aprovar-lhe tudo: Presidente da Assembleia da República, Orçamento e inviabilização de moções de censura. Amestrou o PS até o empurrar para o abismo de pedir confiança numa questão que até dentro do PSD gera desconfiança.
Desde o primeiro dia em que chegou ao cargo, o primeiro-ministro concentrou esforços em destruir o PS e foi, finalmente, recompensado por isso.
Regozijar-se-á por ver os socialistas ultrapassados pelo Chega, mas, na prática, só destrunfou Pedro Nuno Santos para dar o ás a André Ventura.
Montenegro viu o PS ser comido de cebolada, mas na tragédia do Rato pode antever o seu próprio destino, aquele em que a laranja do PSD lhe vai ser enfiada na boca para servir de banquete aos famintos comensais do Chega, energizados pelos 23% de votos.
Da mesma forma que o Chega utilizou a Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso das gémeas para destruir Marcelo, não hesitará em utilizar o mesmo instrumento para destruir Montenegro com a Spinumviva quando a altura for favorável.
E a julgar pela evolução da economia, não vamos esperar quatro anos por isso…
Mas até lá, Montenegro é um génio!
João Bastos