Recordando

Hoje, 13-05-2021, (Quinta Feira de Ascensão) é feriado municipal no nosso Concelho, e, dou por mim a pensar que a tradição já não é o que era. Em épocas já vividas este dia era de grande azafama entre os grupos de amigos e famílias que munidos dos respetivos farnéis lá partiam nas carroças em direção à borda da Ribeira dos Paços Negros (leia-se Ribeira de Muge). Era um dia de romaria, comezaina e festa com bailaricos.

Neste dia as Fazendas ficavam desertas de pessoas. Era lindo o regresso com as carroças em procissão. Mais tarde, as carroças foram substituídas por tratores e as deslocações e festejos eram então na barragem dos Gagos. Num ciclo mais recente, os tratores foram substituídos pelas carrinhas de caixa aberta e os grupos pela facilidade de deslocação, ficaram mais divididos; uns para a barragem dos Gagos, outros para o Vale de Agua e alguns para a barragem de Montargil, mas o arraial e o romantismo do regresso perdeu-se.

Hoje, ainda não vislumbrei um único grupo que organizadamente fosse para aquelas bandas comemorar a Ascensão. É natural, a maldita pandemia tudo subverteu e vergou. Tudo não; há grupos que deliberadamente ignoram as restrições impostas pelas autoridades sanitárias, potenciando um regresso ao estado de emergência. Não há manifestação politica, desportiva ou outra cujo direito  se sobreponha ao  daqueles  que delas não fazem parte, e que, por via delas venham a sofrer as consequências. Tudo seria mais racional se cada um se compenetrasse a respeitar a lei e a ordem. Fez-se um enorme chinfrim em torno da realização da festa do Avante, mas a festa realizou-se.

Foram cumpridas todas as normas de segurança? Temos o direito de pensar que não. Quando já era proibido a presença de púbico nos estádios de futebol, realizou-se um evento desportivo em Portimão com milhares de assistentes. Foram cumpridas as normas de segurança? Temos igualmente o direito de pensar que não. Na semana em que foi decretado um rigoroso  cerco sanitário a duas  povoações de Odemira, nada se fez para evitar a concentração maciça dos adeptos do Clube Campeão Nacional junto ao estádio Alvalade que, pese embora o seu direito ao entusiasmo, não respeitaram o cumprimento das regras de segurança. Enfim, mesmo na prevenção de atos que podem potenciar um agravamento da saúde pública a tradição já não é o que era. Em Direito, existe um princípio pelo qual se entende que a lei ou disposição que permite o mais também permite o menos. Pelo que ocorreu, poderão as autoridades impedir que um pequeno grupo de amigos se reúna num café ou esplanada em contravenção com o que está estabelecido?

Fiquem bem, de Pampilho ao Alto.