“Há um movimento que quer acabar com a tauromaquia”

O Cine Teatro de Almeirim recebeu, no dia 19 de novembro, o espetáculo ribatejano “O Touro, o Cavalo, e o Fado- a relação”.  O espetáculo, apresentado por Raúl Caldeira, explorou as raízes culturais ribatejanas, através da história do Touro, do Cavalo e do Fado

Raúl Caldeira apresentou a história destes três elementos ribatejanos e foi acompanhado pelo fadista João Chora e o jovem guitarrista João Vaz, que tocaram uma série de canções alusivas ao touro, ao cavalo e ao fado.  Estas três vertentes, de acordo com Raúl Caldeira, estão intimamente relacionadas com a história e a cultura portuguesa. E Almeirim foi o local ideal para apresentar este espetáculo pois, foi nesta cidade, onde a equitação e a tauromaquia deram os seus primeiros passos. Segundo Raúl, Almeirim recebeu “muitas festas reais” e não é, de todo, despropositado indicar Almeirim como “o berço da tauromaquia”. Para além da tauromaquia e da equitação, que ainda hoje têm um peso muito significativo na cultura almeirinense, esta cidade é também a casa de muitos fadistas. Por todas estas razões, Almeirim foi vista como a cidade ideal para falar sobre esta relação, que, nas palavras de Raúl Caldeira, foi “importante e decisiva na construção de uma entidade nacional”.

No decorrer do espetáculo, o público mostrou-se sempre interessado pelas histórias de Raúl Caldeira, e entusiasmado pelos momentos musicais protagonizados por João Chora e João Vaz. Depois do espetáculo, e em conversa com o Almeirinense, Raúl Caldeira fez um balanço positivo do evento: “Sendo a primeira vez, não foi mau. Eu trazia 30 e tal folhas de papel, e acabei por ler apenas duas ou três. Por isso, de um modo geral, penso que correu bem e estou muito satisfeito”. Numa conversa mais alargada sobre tauromaquia, Raúl Caldeira considera que Portugal é uma zona onde a riqueza da cultura tauromáquica é evidente: “Temos muitas ganadarias, muitos fadistas e muitos guitarristas e o verdadeiro ser português é isso mesmo: Gostar de tauromaquia, gostar de cavalos e gostar de fado.” 

Apesar da tauromaquia ser um elemento popular na cultura portuguesa, nos últimos anos temos vindo a assistir à emergência de diversos movimentos sociais e políticos, que se posicionam contra esta cultura. Raúl Caldeira, a este propósito, lembra que “ao longo da história houve muitos movimentos que tentaram acabar com as touradas, mas nenhum deles teve sucesso”. 

Do ponto de vista político, Raúl reconhece, contudo, que a situação é “complicada”, porque há “um movimento, que vem do norte da europa”, que “quer acabar com certas tradições, e a tauromaquia é uma delas”. A resposta, considera, tem que ser dada pelo “povo” através “do voto”: “já diz a canção: “o povo é quem mais ordena”. E quando o povo quer não há nada que consiga demover essa vontade”, refere.  A par destes movimentos, Raúl destaca alguns problemas que afetam hoje a tauromaquia, nomeadamente a “falta de emoção”: “há, efetivamente, uma falta de sangue novo, como aconteceu com o José Mestre Batista ou com o João Moura, que foram figuras que fizeram com que a festa tivesse aquele esplendor. E, neste momento, estamos com um número de toureiros que não conseguem levar gente à praça, porque falta um bocadinho de emoção. Nós temos que ter a perceção que o touro está ali para criar perigo. Nós vamos para as bancadas para sentir emoção, para sentir o perigo, sentir o aperto no coração. E nesse especto, falta aos toureiros a capacidade de entender o touro”.  

 Apesar dessas limitações, Raúl tem a certeza que a tauromaquia não vai acabar e isso vê-se pela “quantidade de ganadarias, e a quantidade de gente jovem a querer ser toureiro”.