“A RUTIS dá coesão e voz a centenas de iniciativas locais”

A RUTIS é uma Instituição Particular de Solidariedade Social e de Utilidade Pública de apoio à comunidade e aos seniores, de âmbito nacional e internacional, com sede em Almeirim, criada em 2005. Luís Jacob recebeu O ALMEIRINENSE e reforçou o que foi feito nestes 20 anos e que os principais objetivos são a promoção do envelhecimento ativo e a valorização das Universidades Seniores.

Como olha para estes 20 anos?

Foram vinte anos a provar que a aprendizagem não tem prazo de validade, nem idade e que pode ser o mote para aumentar a qualidade de vida. O que começou com uma boa experiência em Almeirim com a USAL (Universidade Sénior de Almeirim), tornou-se um movimento nacional e internacional. O meu maior orgulho é ver o efeito nas pessoas: amizades novas, rotinas saudáveis, mais felicidade e menos depressão, autonomia reforçada e comunidades mais coesas. Em cada universidade sénior há histórias de vida recomeçadas aos 60, 70 ou 90 anos, e isso vale mais do que qualquer estatística.

A ideia sempre foi criar uma rede, ou o projeto cresceu mais do que esperavam?

Houve a vontade desde início de partilhar a experiência que estávamos a ter com a USAL com outras entidades e pessoas. De ligar iniciativas e dar-lhes método, identidade e apoio. Mas o crescimento superou totalmente as nossas previsões. Sempre que uma associação local ou autarquia abre portas e a comunidade quer participar, uma universidade sénior nasce. A rede ajudou a garantir qualidade e partilha de boas práticas e as pessoas deram o ritmo e o alcance necessário.

Quais as maiores conquistas deste caminho?

Destaco quatro. Primeiro, a distribuição territorial: hoje estamos de norte a sul, ilhas incluídas, com respostas próximas das pessoas, em 85% dos concelhos. Segundo, o modelo de voluntariado dos professores e a gestão local, que resiste, inova e adapta-se (até em pandemia, quando migrámos para formatos online). Terceiro, o impacto social: redução do isolamento, mais participação cívica e cultural e ganhos claros de bem-estar e sentido de propósito, apenas a título de exemplo, as pessoas que frequentam as US têm sete vezes menos probabilidade de sofrerem de depressão do que os seniores que não frequentam nenhuma atividade. Além disso é um projeto muito acessível, o custo técnico de um aluno de uma universidade sénior é 64 vezes menor do que o custo de um idoso numa ERPI (lar de idosos).  E por fim a criação da lei para as Universidades Seniores em 2021, que foi algo pelo qual batalhamos bastante. 

Com a esperança média de vida a aumentar, qual é o papel destas organizações?

São parte da infraestrutura cívica da longevidade. Mantêm o cérebro, o corpo e as relações a funcionar. Oferecem aprendizagem contínua, sentido de pertença, um novo projeto de vida, um renascer, pontes intergeracionais e são uma razão para sair de casa. Trabalham na vertente da prevenção — antes de chegar a dependência, tristeza ou o declínio das capacidades — e complementam os serviços de saúde e de ação social.

E o que falta fazer?

Faltar chegar melhor aos territórios do interior e a pessoas com menos mobilidade; trazer mais homens (as mulheres predominam); reforçar a literacia digital, financeira e em saúde; garantir transporte e espaços adequados para as atividades e fomentar ainda mais o voluntariado. Falta mais financiamento que permita um planeamento de longo prazo sem viver de projetos curtos ou pontuais. Precisamos de continuar a inovar nos serviços que prestamos e a ir ainda mais ao encontro dos desejos dos atuais e futuros seniores. 

Qual é a importância social da RUTIS?

A RUTIS dá coesão e voz a centenas de iniciativas locais. Forma coordenadores, apoia a qualidade nas entidades, organiza eventos, representa as universidades seniores junto de parceiros e conecta quem está a fazer bem para que outros façam ainda melhor. Em suma, evita o isolamento institucional e acelera a inovação com base na partilha. De salientar que esta importância é reconhecida pela Resolução de Conselho de Ministro 76/2016 que destaca exatamente o impacto social do nosso projeto, sendo o único projeto social em Portugal que tem este reconhecimento. 

Quantos alunos e professores têm atualmente?

Temos hoje mais de 70 mil alunos, distribuídos por mais de 410 universidades seniores, apoiados por perto de 7.500 professores voluntários. Estes números crescem de ano para ano porque a procura é real e constante. Recordar que começamos em Almeirim com apenas 12 alunos e uma professora em Janeiro de 2001. A RUTIS foi oficialmente constituída como instituição em utilidade pública em 2005.

Com quem gostava de soprar as velas destes 20 anos?

Com os protagonistas: os alunos, os professores voluntários e os coordenadores locais que, todos os dias, fazem esta ideia acontecer e com os dirigentes. E com as associações, IPSS, escolas e parceiros que abriram portas em cada concelho. É uma celebração de comunidade. Este percurso de 20 anos só foi possível porque em determinados momentos tivemos pessoas que acreditaram em nós, no projeto. Sem esses pequenos apoios, que no fundo se traduziram em muito, não tínhamos em Almeirim e em Portugal, aquela que é considerada a maior rede mundial de universidades seniores. Desejamos receber em Almeirim algumas dessas pessoas na nossa festa de dia 16 de Outubro. 

Projetos futuros?

Queremos continuar a aumentar o número de universidades e de alunos, assim como alargar os nossos serviços e potenciar as nossas novas atividades como a Universidade Sénior Virtual (que recentemente ganhou o prémio de Inovação Social do Instituto da Segurança Social) e o Walking Football (Almeirim irá receber em Novembro uma prova do campeonato do mundo organizado pelo município, pela RUTIS e pela Federação Internacional de Walking Football).


Factos e números: 

• 20 anos de RUTIS e 24 anos da Universidade Sénior de Almeirim

• Mais de 410 universidades seniores, de norte a sul e ilhas

• Cerca de 70 000 alunos e 7 500 professores voluntários

• Programas em destaque: Universidade Sénior Virtual, Walking Football e programas europeus Erasmus.