Paulo Serra, um professor fazedor de Arte

“Je suis Paulo Serra”, o professor de Artes Visuais do Ensino Secundário – ensina uma das suas artes, o desenho. Uma vida dedicada a partilhar com os jovens aprendizes um saber que se transforma em arte, o seu objeto de reflexão e nosso de contemplação. O desenhador, o cartoonista, o pintor, o fotógrafo, o escritor, o músico, tantas as formas de interpretar o mesmo mundo, este daqui, num olhar de um homem, professor de corpo e alma. Paulo Moreira da Fonseca Silva Serra nasceu em 1954, em Lisboa, tem uma licenciatura em Belas Artes e um mestrado em CEMultimédia. No seu currículo conta já com inúmeras exposições e alguns prémios e foi o convidado do programa Cultur.Alm do  Almeirinense TV. Ensinar é uma paixão e ensinar desenho é uma construção de competências que permanecem com os alunos – “um orgulho que fiquem a saber desenhar e a desenhar bem. Mas o meu objetivo não é criar artista; apenas dar-lhes as técnicas e as capacidades para desenhar ou pintar”!

Começou numa escola em Lisboa, O Arco, que lhe mostrou a vocação para fazer depois Belas Artes. Gostava de Design de Comunicação e começou a trabalhar aos 14 anos a fazer capas de revistas e de catálogos. Mas uma oportunidade de emprego, acabou por levá-lo para a docência. Deu aulas em vários locais mas veio parar a Almeirim. Viveu muito tempo em Lisboa. Uma cidade com uma cor e uma luz surpreendentes. Gosta de passear por Lisboa. Almeirim tem os campos. É um outro olhar. Diferente de todos os outros. 

Ainda adolescente começou a fazer cartoon. Pequenas situações do dia-a-dia eram o seu “leitmotiv”. Só mais tarde surge o cartoon como crítica. Nos anos 80 fez, com sucesso, a sua primeira exposição, em Tomar, num Encontro de Professores, tendo como temática os descobrimentos. Foi a partir daí que o cartoon se tornou um processo criativo frequente – notícias, as cheias, atualidades- tudo servia de pretexto para uma caricatura, embora não seja caricaturista. Gosta muito de um género americano, o da “piada seca”. O cartoonista gosta de ver as reações das pessoas aos seus cartoon, sobretudo, quando “são disparates, coisas sem nexo”, diz. Deixando de lado “Je suis Paulo Serra”, o artista deixa-se descobrir pela pintura. Usando materiais que trabalha com os alunos, vai praticando a criatividade em cada  aguarela, pastel de óleo, o acrílico e a grafite. Como adora viajar e passear, aproveita para o exercitar o “Sketch” ou a aguarela. Fez uma exposição de telas, acrílíco, mas está um pouco parado no que diz ser a pintura de estúdio. O cansaço da idade (e do exercício da sua profissão com o horário cheio) fazem-no abrandar. Não é mau, diz. Cada vez se sente mais apto para ensinar. Para ensinar também são precisas vivências. E, além do traço com que cria as paisagens ou os casarios, a objetiva é outra experiência. Começou a fotografia aos 16 anos. Dormia ao lado dos líquidos de revelação! Como saía caro, guardava os negativos sem revelar. Por isso não tem saudades da fotografia de revelação.

Outra revelação é a escrita. Como disse, “escrever é pintar com a mente”, e na poesia encontrou um outro sentir não traçado nas outras expressões. Publicou em 2016, Vagamente Marítimo, um conjunto de poemas de amor visuais, com prefácio da filha Catarina. E se não lhe bastasse ser “pedaços” de um Pessoa, é um “fazedor” Borgeano de fugas musicais. Influenciado pelos sons do  piano tocado pelo pai e pelo vinil da música clássica, Paulo Serra teve uma viola aos 16 anos e, por volta de 75/76 do século passado, reunia-se com uns amigos na “Cenófila”, em Lisboa, num projeto de uma banda. Aprendeu a tocar saxofone e chegou a frequentar a Academia dos Amadores de Música. A música é a sua grande frustração porque gostava de compor. Mas, noutros tempos, era preciso parar de sonhar.

Água, barcos, o mar, a sua última fronteira. Falta-lhe tempo para recuperar o barco e navegar. Navegar no mar e pela arqueologia à qual regressa, de vez em quando. Ahhh…os carros antigos! Tem um “velhinho”, um clássico. Mas um dia, ainda vai…larga tudo e ruma ao sul, sul de Itália! E talvez, aí se perca…