Mário André, o senhor dos Fanzines – Do desporto à Banda Desenhada

Era uma vez um presidente (Bruno de Carvalho) de um clube de futebol (o Sporting) que resolve fazer algumas alterações na equipa médica da equipa principal e pega no seu enfermeiro coordenador, Mário André, e trata de o transferir para o pólo do Estádio Universitário para apoiar os mais jovens. Foi a oportunidade para começar algo novo. Rescindiu contrato em 2013, após 23 anos ao serviço dos leões, e a vida mudou de rumo.

Natural de Alpiarça e enfermeiro de profissão, foi Mário Lázaro, dos Águias, que o levou para o desporto. 

Concorreu ao Sporting e lá fez um curso de enfermagem desportiva com o Manuel Marques. 

Mas não ficou ainda no Sporting. Foi nessa altura que veio para a União de Almeirim. Pouco tempo permaneceu no clube almeirinense porque regressa ao Sporting … por 4 anos. Seguiu-se a Federação Portuguesa de Futebol e, quando Carlos Queirós salta para o Sporting, 

Mário André vai com ele. Disse uma vez, há muitos anos atrás – “Se não for enfermeiro, vou fazer banda desenhada!” Já reformado, Mário André vê a Banda Desenhada como uma terapia, uma ocupação e uma forma de conseguir uma autodisciplina e uma rotina diária.

Mário André ou Kustom Rats, o seu heterónimo enquanto autor de Banda Desenhada, dedica-se à produção de BD, muito especialmente dos Fanzines que considera o ponto de partida para os criadores de BD. São exemplares em BD, produção e divulgação de autor, sem fins lucrativos, a verdadeira “liberdade de Expressão”, como o define Mário André. 

Uma forma de crítica social, e cultural, muito comuns a uma geração, 70 ou 80, e são estes fanzines que Mário André conseguiu reunir numa Fanzineteca que criou na Biblioteca Municipal de Alpiarça. 

Mário André tem travado uma luta pelo ensino da BD e pela criação de Fanzines nas escolas e lembra que a Escola Secundária Marquesa de Alorna já teve uma publicação em Fanzine – O Grito.

Já se definiu como um cínico que usa e abusa do vernáculo – “Transmito o que sinto e cada um que sinta o que quiser”, e teve como primeira inspiração o autor de BD, Bukowski. 

Já com exposições e participações no Festival Amadora BD, Mário André, lançou pela primeira vez, no ano de 2021, uma novela gráfica – A Implosão baseada na obra homónima de Nuno Júdice. Ficou fascinado pela capa do livro, a preto branco, e a história – movimentos de descontentamento , anti-Troika, no tempo de Passos Coelho, “sentiu-a desenhável”. Um processo de criação que começou em 2015, sempre um contínuo à descoberta da obra e de si próprio. 

É quase uma novela autobiográfica, e quando falou com o Nuno Júdice perceberam o tempo da história que tinham em comum! Ah…”foi uma honra contar com a presença do escritor na apresentação da obra no Amadora BD!”

Agora a viagem é outra: o mundo pessoano. O Dr. Quaresma, personagem (talvez tivesse sido um outro heterónimo) é um decifrador que ajuda a polícia a resolver casos e vai ajudar também o Kustom Rats a criar mais novelas gráficas. 

Do género “policiário “ de Fernando Pessoa, Mário André, já desenhou dois contos – O Caso do Quarto Fechado e  O Crime. “Muito difícil trabalhar estes textos de Pessoa porque são muito estáticas, as cenas” mas, mesmo assim, Mário André não desiste e espera, em maio deste ano, apresentar no Festival de BD de Beja estas novelas gráficas. 

Artigo de Teresa Sousa