Nuno Proa preparado para mais uma experiência internacional 

após nove anos ao serviço das águias, Nuno Proa vai abraçar um novo desafio: O Técnico Almeirinense vai ser uma das principais figuras da formação do clube dos Emirados árabes unidos, Al Wahda. Para além de coordenar a academia, vai também orientar a equipa sub-16. 

Como surgiu esta possibilidade de treinar os sub-16 e também coordenar a academia do Al Wahda?

O convite veio, maioritariamente, de contactos que eu estabeleci dos quatro anos que estive a trabalhar no Catar, no futebol é muito isto, vai passando a palavra e há uns meses tinha sido contactado pelo clube. Apresentaram-me um projeto que eu achei que era interessante, e nas últimas semanas chegámos a acordo e aí vou para mais uma experiência internacional.

Que aspetos deste projeto achou mais interessante?

Acima de tudo, o que eu acho mais interessante é a visão que o clube tem, não só de fazer uma coisa a curto prazo, mas é um projeto que eu percebo que tem que tem bases sustentáveis para, no futuro, permitir aos atletas jovens atingirem o patamar da equipa principal e agora a própria contratação do mister Carlos Carvalhal, que é o treinador da equipa principal, é muito nesse intuito em que o clube quer muito apostar nos jovens que são formados dentro da própria academia e foi isso que me cativou, porque, no fundo, o futebol de formação é muito bom o que nós queremos é que os atletas que nós treinamos atinjam aquilo que é o patamar maior dentro do clube e depois, a partir daí, possam ir para valores maiores.

Já aqui falou de Carlos Carvalhal, esta decisão de abraçar este desafio também se deveu à contratação do treinador português?

Teve influência, não diretamente, ou seja, a minha ida para o clube não está diretamente relacionada como a própria ida do mister Carvalhal, mas, obviamente, que pesou na decisão, até porque, lá está, se o clube está efetivamente a apostar na formação, e eu sei que o que o mister Carvalhal é um treinador que também gosta desse aspeto, incentivou-me e, obviamente, que pesou também nesta decisão.

E nesta sua nova aventura que funções é que vai desempenhar?

Então eu vou desempenhar, como já referiu e muito bem, vou colaborar com os sub-16 como treinador-adjunto, vou ser treinador principal dos sub-13, vou ser também o braço direito, uma espécie de subcoordenador ou subdiretor técnico, como eles chamam, do novo diretor técnico da academia, que é holandês e que também trabalhou comigo no Catar e vou ser responsável igualmente por dar formação aos treinadores lá. Nós temos muitos treinadores no clube que são nacionais, que são dos Emirados Árabes Unidos e vamos tentar implementar a nossa metodologia, e uma das minhas tarefas vai ser transmitir essa metodologia, esses conhecimentos para os treinadores de lá.

E para quem não conhece o clube, estamos a falar de uma equipa de grande dimensão?

Estamos. Eu diria ao nível dos 3 grandes de Portugal, nos Emirados Árabes Unidos existem três ou quatro grandes clubes e o Al Wahda é um desses clubes: luta para ser campeão nacional do país e joga as competições asiáticas de futebol, joga também a liga dos campeões asiática e é um clube que investem bastante, tanto na equipa principal como na formação, e, enfim, é um dos maiores clubes, não só do país, mas também da Ásia.

E relativamente ao campeonato, é um campeonato competitivo?

É um campeonato competitivo que tem as tais três, quatro, cinco equipas que têm capacidade financeira para se reforçar com jogadores europeus, portugueses, inclusive, e o campeonato é competitivo nesse aspeto. Têm bons jogadores e têm os jogadores nacionais que muitos deles representam a seleção nacional dos Emirados Árabes Unidos, mas também, com essa capacidade financeira que lhes permite jogadores com potencial, jogadores com carreiras já bem-conceituadas na Europa e que eleva o nível do campeonato.

Esteve nove anos ao serviço do SL Benfica, que balanço faz desse período?

É um balanço positivo e é um balanço, que, olhando para trás me deixa feliz e orgulhoso. O Benfica vai ser sempre uma casa que eu vou respeitar e que vou ter sempre muito orgulho de ter representado. Foi lá que me formei como treinador, efetivamente, a minha experiência no Qatar foi extremamente importante, mas todas as bases da minha carreira, ainda curta, enquanto treinador, eu devo isso ao SL Benfica e hei de estar extremamente grato por estes nove anos que passei ao serviço do clube.

Que aprendizagens e que valores adquiriu ao longo destes nove anos?

Eu acho que de tudo, desde a própria forma de ver todo o processo de formação do jovem atleta, os valores que o clube passa, o não olhar só ao rendimento imediato, mas muitas vezes valorizar o ganhar ou perder, em detrimento daquilo que é mais importante para o atleta evoluir, acho que dessa visão do que é o processo de formação, eu devo isso ao SL Benfica e, de facto, acho que é o mais importante, é o essencial. O que eu retenho são todos esses valores daquilo que é o processo de formação do jovem atleta, que eu jamais vou esquecer e que vou usar daqui para a frente na minha carreira.

A academia do SL Benfica, de resto, tem dado muito bons jogadores ao mundo do futebol, ertamente teve a oportunidade de treinar muitos jogadores. Algum jogador, em particular, que treinou e que hoje em dia está na ribalta?

Bom, eu poderia referir vários nomes, mas aqueles que se destacam mais, hoje em dia, e que toda a gente conhece porque estão num nível alto: Paulo Bernardo, que está na equipa A do SL Benfica, Fábio Carvalho, que assinou recentemente contrato com o Liverpool e que está também na primeira equipa, muita gente não sabe, mas o Fábio iniciou-se  no Benfica e eu tive a chance de ser treinador dele, um miúdo com medo, com potencial tremendo. O Rafael Brito, que estava na equipa B do SL Benfica e agora está no CS Marítimo, primeira liga de Portugal, também. Poderia dizer aqui mais nomes, mas estes saltam mais à vista pelo facto de estarem num patamar mais elevado, mas tenho a certeza absoluta de que outros se seguirão: aqueles que estão ali na porta de entrada, que representam a equipa B do SL Benfica, os sub-23, os sub-19 e tenho a certeza de que vamos ouvir falar muito de todos eles porque são atletas excecionais e com potencial muito grande e que estão aí prontos a rebentar e dar cartas.

A formação é talvez a etapa mais importante dos futebolistas. Enquanto treinador de formação que valor é que tenta incutir aos seus jogadores?

Eu acho que numa primeira fase, o gosto pela prática desportiva é fundamental. Eles têm que se divertir, têm que ter objetivos, é claro, mas têm que desfrutar daquilo que fazem e então o gosto pelo futebol e pela prática desportiva de uma forma geral, acho que é a base de tudo o resto. Depois, a melhoria das capacidades técnicas, físicas, a capacidade de resiliência, eu acho que isso é extremamente importante e cabe-nos a nós, enquanto formadores e treinadores, também incutir e passar essa mensagem aos atletas. Depois, quando chegarem a um patamar mais elevado, é prepará-los para a competição e para toda a exigência que a competição vai trazer, quer os momentos bons, quer momentos maus, estarem muito bem preparados psicologicamente para enfrentar os momentos mais adversos, como lesões, jogos menos bem conseguidos e, como oposto,também o sucesso imediato muitas vezes pode ser causador de outros problemas. E eu acho que esses são os valores que eu pessoalmente gosto de transmitir e que gosto que os atletas que eu tenho a oportunidade de treinar tenham no futuro.

E a nível pessoal, como é que surgiu este bichinho pelo futebol, foi uma coisa que surgiu desde muito cedo?

Surgiu muito cedo, desde pequenino que me vejo com uma bola nos pés. Representei o União de Almeirim e outros clubes do Conselho durante muitos anos, até aos vinte sete anos de idade. Quando decidi terminar de jogar, tive o convite do FOOTKART para iniciar uma carreira, começou por ser uma coisa mais lúdica. Eu não sabia sequer se gostava, foi uma experiência nova trabalhar com miúdos muito pequeninos na altura, mas o que é certo é que o bichinho do treino também ficou e desde muito cedo eu percebi que era o que eu queria fazer, que é apostar nesta carreira, e depois as coisas desenrolaram-se de uma forma que consegui que seja hoje a minha profissão. Gosto muito daquilo que faço e acho que sou muito feliz porque tenho essa possibilidade e, basicamente, foi isso: sem estar preparado e sem ter sido um objetivo de carreira até aos vinte sete anos, porque eu jogava, foi uma coisa que aconteceu de forma natural mas foi um bichinho que ficou e que eu tenho muito gosto de fazer aquilo que faço hoje em dia.

Enquanto treinador de futebol, quais são as suas grandes referências?

Eu acho que, a nível nacional, os treinadores portugueses, estes da nova geração de que se fala hoje em dia, acho que todos eles são uma referência para nós, até pelo facto de terem levado quase todos eles o nome dos treinadores portugueses além-fronteiras e depois, uns mais pela metodologia que aplicam, outros mais pelo discurso e pela forma de estar que têm, não vou dizer assim um nome em particular, mas os treinadores portugueses, de uma forma geral, influenciam-nos a nós de uma forma bastante vincada. A nível Internacional, é impossível não falar de um Guardiola, de um Klopp e desses treinadores que têm tido muito sucesso, não só a nível desportivo pelos resultados que têm conseguido alcançar, mas pela filosofia de jogo, pela forma de estar, que também têm, pelo discurso e acabam por ser um exemplo para nós da mesma forma que nós somos exemplo para os nossos jogadores. Acho que todos nós, temos treinadores de referência e vamos buscar um bocadinho de cada um deles e acho que isso também é extremamente importante: ter o nosso cunho pessoal e sermos nós próprios como treinadores, mas também aceitar que ir buscar um bocadinho deste e daquele também nos vai fazer melhor e vai nos fazer mais sucesso.

No futuro, gostava de treinar uma equipa sénior?

Eu gostava, não é que seja um objetivo que eu tenha a curto prazo, mas a médio prazo, obviamente que sim. Eu gosto muito da formação, quero continuar a trabalhar na formação nos próximos anos. Mas se surgir a oportunidade de treinar uma equipa sénior, porque não? Até porque eu gosto de desafios, está aí mais um desafio à porta e quando esse desafio surgir, se sentir que estou preparado para o aceitar ,vamos a isso.

E por falar em desafios, já esteve 4 anos no Qatar, fale um bocadinho dessa experiência. Conseguiu-se adaptar bem à cultura do país?

Creio que me consegui adaptar bem. Para isso, de facto ajudou ter lá amigos portugueses e ter lá outros treinadores portugueses com quem trabalhei diretamente em que ajudaram muito na integração. O próprio país, para quem não sabe, é um país no qual é muito fácil viver, as pessoas são simpáticas, são recetivas. Em termos desportivos havia uma grande aposta no futebol que vai culminar agora com a realização do próprio Campeonato do Mundo. O projeto era extremamente interessante, eu tive a oportunidade de trabalhar com muitos jovens jogadores e de os preparar exatamente para este campeonato do mundo vou ficar extremamente feliz e até orgulhoso porque contribui um bocadinho para que cada um deles vá representar a seleção nacional do Qatar pela primeira vez no Campeonato do Mundo de futebol, por isso e por muito mais como devem imaginar foi uma experiência muito enriquecedora e basicamente o projeto foi esse e vou ficar muito feliz por vê-los representar agora o país e por saber que tenho um contributo para que eles tivessem chegado a este nível.

No futuro, pondera voltar ao Seixal?

Eu creio que da forma como sai, modéstia à parte, ainda esta esta semana que passou tive a oportunidade de visitar novamente a academia de me despedir dos meus colegas, as equipas já estavam praticamente todas a trabalhar. Fica um sentimento de nostalgia por um lado, não é, tanto da minha parte como das próprias pessoas, creio que as portas ficaram abertas, foi essa a mensagem que que me foi passada, pelo menos é esse o sentimento que eu tenho. Agora esta carreira é feita de desafios, de passos e de decisões que muitas vezes temos que tomar, se um dia surgir essa oportunidade de voltar ao SL Benfica, obviamente que vou ponderar com agrado e se tiver que voltar será com a maior das alegrias como já referi anteriormente, é a minha casa por assim dizer, foi um local onde me formei como treinador e terei todo o gosto de voltar, se a oportunidade surgir.

E como olha para o nosso futebol aqui regional, costuma acompanhar o futebol aqui no concelho de Almeirim?

Eu costumo acompanhar, confesso que nos últimos anos um bocadinho menos. Vi com muita alegria o facto de há 2 épocas atrás o União de Almeirim ter chegado aos campeonatos nacionais, o próprio União de Santarém que esteve muitos anos afastado, inclusivamente deixaram de ter futebol sénior, creio eu, e que atualmente estão nos campeonatos nacionais, de ver o AD Fazendense que é um clube do nosso concelho, as décadas passam e eles mantêm-se sempre a um bom nível, têm muitos jovens a praticar. Continuo sempre a colaborar da forma que me é possível e que me é permitida e a acompanhar o Footkart porque foi o clube onde eu comecei e tenho lá muitos amigos treinadores e continuo a acompanhar, acho que temos potencial e temos qualidade humana de atletas crianças e jovens que praticam para atingir um bom nível, não quer dizer que tenham de vir a ser profissionais, mas que possam representar os clubes do nosso concelho a um nível interessante. Continuo também sempre a acompanhar e sempre a torcer por todos eles, tanto individualmente como pelos clubes do nosso concelho e do nosso distrito, também que tenham muito sucesso.