‘A Carta’, por Sandra Fé Fernandes

Ia eu pela rua,
Quando para o chão olhei,
E uma carta encontrei,
Dei-lhe voltas e mais voltas,
Para descobrir de onde vinha,
Mas na carta não havia morada,
Não havia selo,
Nada tinha!!
Era apenas uma carta fechada,
Pelo tempo esquecida,
Pelo mundo abandonada.
Pensei abrir e ler,
Mas senti- me tremer,
Como se pressentisse,
Que não o devia fazer.
Achei aquela carta…
Obviamente não seria para
mim!!
Talvez por isso o meu corpo,
Estava a reagir assim…
Por alguns minutos receei,
A carta que encontrei,
Não a podia ali deixar,
Nem tão pouco ignorar,
A carta que acabava de achar.
Virei o envelope ao sol,
Para tentar perceber,
Se ao entrar a luz,
Algo pudesse ler.
Percebi que era escrita à mão,
Li a palavra “desilusão”,
Acompanhada de “solidão”.
Sem ter a exata perceção,
Desisti desta sensação de expiação,
Reparei em palavras visíveis,
Embora as frases não fossem
percebíveis.
Devia abrir ou não?!
Ficou em mim a interrogação,
Enquanto curiosa,
Segurava a carta na mão.
Resolvi uns segundos aguardar,
Permaneci naquele lugar,
Na esperança de alguém voltar,
Para a carta recuperar.
Nem sequer endereçada,
Aquela carta fechada,
Por dentro manuscrita,
Suspirava aquela escrita.
Podiam ter perdido,
A caminho de a entregar,
Podiam-na ter recebido,
E deixado ali ficar…
Quem aguardava a carta?!
Quem a quis entregar?!
Quem a deixou de propósito,
Para eu a apanhar?!
Quem a deixou cair?!
Quem não a quis ler?!
Há quanto tempo estava ali?!
Tanta pergunta para responder…
Questionava a razão,
Não encontrava explicação,
Por o universo ter permitido,
Que a carta se tivesse perdido…
Minha vontade era a desvendar,
Começando por abrir e ler,
Mas não queria que o destino,
Comigo se pudesse ofender.
Aguardar mais um tempo,
Podia ser sensato,
Fechei-a dentro de um livro,
Numa gaveta do meu quarto.
Sabia que estava ali,
Se ouvisse alguém lamentar,
Ter perdido uma carta,
Pouco antes de a entregar.
Meu coração apertado,
Supunha também,
Se a carta seria para o mundo,
A despedida de alguém!
Podia ser um desabafo,
Ou mesmo uma confissão,
Podia ser uma mensagem de
amor,
Ou uma descoberta traição.
Por respeito à ordem divina,
Que sinto em mim projetada,
Enquanto não receber o sinal,
A carta fica guardada.
Vou resistir à curiosidade,
Colocando-me à prova assim,
Aguardo que Deus me diga,
Se a carta era pra mim …
Uma carta perdida…
Ou uma carta rejeitada…
Tenho-a num livro sagrado,
Numa página consagrada.
Quando abrir a gaveta,
Onde a guardei com carinho,
Vou exclamar de novo,

Que carta achei no caminho!!!