“Uma perspectiva”, por Ana Sofia Fernandes

Desde sempre, a profissão de enfermagem teve um papel ativo em situações de catástrofe (guerras,epidemias), portanto, aliada a questões de risco,de stress cuja intervenção tem o foco de salvar vidas em condições precárias de segurança física e emocional.

Todo o contexto descrito anteriormente, prova que, diariamente, os enfermeiros, e até à atualidade, vivem sob pressão emocional e física.

Lidar com a vida humana não tem ”tecla delete”, não tem “borracha” ou retrocesso, não pressupõe falha na administração de um medicamento, falha num procedimento… A morte ocasionada por erro humano não devolve a vida.

Estamos do nascer ao morrer, vivemos a ambiguidade de celebrar a vida ou a morte inconformada, de um recém-nascido por exemplo, somos pais, somos tios, somos aqueles que vamos no caminho para casa a refletir se fizemos o nosso melhor.

Num serviço de urgência, a porta está aberta, o inesperado acontece e as respostas são imediatas e firmes. O tempo é tudo, o desgaste é a vivência que diariamente vamos suportando e dando resposta aos hospitais que vão fechando e às baixas inevitáveis do serviço porque estamos realmente cansados.

Trabalho exercido por turnos, não há fins-de-semana, meses sem ter um fim-de-semana para a família, as épocas festivas são angustiantes, criando instabilidade nas equipas e no seio familiar. Vivemos biologicamente ao contrário, anos a fio, e acabamos com perturbações do sono, crises de ansiedade, problemas gástricos entre outros associados ao stress laboral contínuo.

A violência sobre a nossa profissão atinge níveis nunca vistos, ameaçados em contexto de trabalho e temos de ter a capacidade de realizar cuidados com coerência e competência neste contexto.

Temos, sem dúvida, todas as características de uma profissão de desgaste rápido e tem sido injusta a tomada de posição sobre o tema, cujas petições entregues até hoje recebem conotação negativa na concretização do que é óbvio nesta profissão.

Que condições reúno, por exemplo, de puncionar um doente ou de fazer manobras de reanimação aos 66 anos e meses de idade em um serviço de urgência?

Ana Sofia Fernandes – Enfermeira