Alunos de Almeirim lançam carro a hidrogénio

Miguel Marques (à esquerda) e José Francisco Barreira (à direita) são dois almeirinenses, alunos do 2º Ano do curso de Engenharia Mecânica do Instituto Superior Técnico que fazem parte do grupo que projetou e, literalmente, construiu o protótipo de um carro citadino a fuel cell, uma resposta para a mobilidade urbana amiga do ambiente.

Como surgiu esta ideia de integrar este projeto do Técnico para fazer um carro movido a hidrogénio?

José Francisco Barreira: Desde já, muito obrigado pelo convite. Temos todo o gosto de estar aqui hoje. O projeto começou com o convite de um professor do Técnico. Convidou um grupo de, sensivelmente, cinco ou seis jovens que, na altura, estavam no primeiro e no segundo anos, em 2019. E surgiu exatamente com o convite. O projeto foi-se desenvolvendo e, atualmente, cresceu de uma maneira que ninguém esperava e conta com quase 50 estudantes.

Também entrou logo, assim que o professor falou deste projeto. Mostrou-se logo disponível a integrar também esta equipa?

Miguel Marques: Não, não. Nós somos já um grupo de estudantes dos que vieram depois dos primeiros que foram desafiados pelo professor.

 Eu integrei a equipa no início deste ano. Portanto, não fui dos primeiros que foram desafiados pelo professor, fui dos primeiros que se viram interessados pelo projeto. E ingressei no projeto também.

E o que é que vos fascinou à primeira vista nesta ideia?

Miguel: Acho que o que nos fascinou é também o que fascina muitas das pessoas: é ver estas tecnologias novas e inovadoras, vê-las a serem aplicadas e querer aprender mais sobre elas e querer também estar por dentro dessas novas coisas.

Foi fácil ou difícil?

 José: Bem, no início é sempre difícil, até mesmo porque o nosso curso acaba por ser muito suave, muito teórico. Eu, quando entrei, estava no meu primeiro ano, o Miguel estava no seu segundo ano, mas, mesmo assim, temos muito poucos conhecimentos e, sobretudo sobre mecânica, sabemos praticamente nada. Até porque a nossa formação nos primeiros anos é muito à base de matemáticas e físicas. Mas quando lá chegámos fomos bem recebidos e as pessoas mais velhas tentaram transmitir os seus conhecimentos e acabaram por nos integrar bem.

Miguel, partilha desta ideia?

Miguel: Partilho, partilho. Foi um bocado um choque de realidade chegar realmente a um projeto, do nosso hábito que tínhamos mais teórico sobre essas questões, e chegar lá e ter as pessoas mais velhas a mostrarem-nos como é que se aplicava e perceber, no fundo, o quão pouco sabíamos daquele tipo de coisas, mais práticas e daquelas questões. E foi muito interessante saber cada vez mais, e ainda hoje em dia, aparecer lá e ir aprendendo mais sobre a aplicação dessas tecnologias.

Também partilha desta ideia de que este tipo de curso e então na fase inicial estamos a falar mesmo de muita teoria e pouca prática e este tipo de iniciativas vêm também potenciar-vos nesta outra área que terá menos atenção nesta fase inicial?

Miguel: Completamente, completamente. É como eu estava a dizer. Chegámos lá e percebemos que é ali que estamos a aprender esta questão. A teoria é toda aprendida durante o curso mas a própria aplicação dela é nestes núcleos e nestes projetos com as pessoas que já sabem que vamos aprendendo.

Este projeto está na ordem do dia com os carros a bateria, elétricos, a terem umas vendas a aumentarem todos os dias. Vocês pensam que o futuro é o hidrogénio ou ainda teremos aqui alguma outra vaga que vai aparecer?

Miguel: No fundo, é uma questão que hoje ainda não se sabe o que é que vai ser.

 Mas o que nós podemos ter a garantia é que nós estamos a aprender e a querer estar lá para ser desses engenheiros que vão conseguir tornar essas tecnologias sustentáveis e viáveis em todas as suas funcionalidades.

O grande problema do hidrogénio é o transporte, não é?

José: Eu penso que sim, penso que sim. Já há alguns testes a serem feitos a tentar implementar o hidrogénio no gasóleo nacional, nas linhas que correm o país inteiro com gás natural, e o problema é que, é curioso, que as partículas de hidrogénio, ou seja, os átomos e as moléculas são tão pequenos em dimensões, que o cimento acaba por ser impermeável e acaba por deixar sair. Então, é preciso implementar 1%, 2% de hidrogénio. Pronto, e a ideia seria o hidrogénio acabar por ir para os nossos fogões e para a utilização diária. E estão a ter muita dificuldade nesse aspeto, de momento.

O vosso carro funcionou bem, ou confessem-nos lá que houve ali algum nervosismo, mesmo no dia da apresentação?

José: Houve, houve. Nós já tínhamos testado o carro bastantes vezes antes. Já não seria a primeira vez que o carro, por algum motivo, não andava. Às vezes basta estar uma coisa desligada, ou um fio que se soltou sem querer, e como são muitos fios, nós acabamos por ficar perdidos. Mas acabou por correr tudo bem, rapidamente. Nem sei se chegou a haver um problema, ou se só demorou um bocado a iniciar o carro, mas rapidamente andou.

 Miguel: A questão que ele estava a falar naquele dia foi, quando o nosso condutor entrou no carro, depois de o apresentarmos e a dar a volta para inaugurar o carro, o que aconteceu foi que ele ficou ainda à volta de um minuto dentro do carro, e o carro não estava a andar. E já estávamos a stressar um bocadinho, lá à volta, tínhamos umas pessoas que já estavam prontas a abrir o carro para ir ver o que é que tinha, o que é que se passava, e do nada, o nosso condutor vira-se para trás e diz: “Ah, peço desculpa, esqueci-me de ligar a Fuel Cell… “ Tinha-se esquecido de ligar o carro, basicamente.

O que é que quer ser quando for grande?

Miguel: Isso é uma bela pergunta que ainda vamos descobrir. Eu quero ser engenheiro.

 Ainda quero experimentar várias áreas para ver aquilo que mais me interessa.

Licenciatura e depois mercado de trabalho, mestrado e continuar na universidade, a estudar, a investigar, são tudo possibilidades reais e que fazem parte desse imaginário?

Miguel: Em princípio, depois do mestrado, não devo continuar. Por enquanto, essa ideia de futuro não tenho na cabeça. Tenho mais de saltar do mestrado para o mercado de trabalho.

José, quando é que surge o gosto e aquela ideia de querer estudar Engenharia Mecânica e ir para o Técnico?

José: Eu, contrariamente ao Miguel, acho que decidi primeiro que queria ir para o Técnico e só depois acabei por escolher Engenharia Mecânica. Até porque, no Técnico, há especialmente três cursos que são muito semelhantes. Engenharia Aeroespacial, Engenharia Mecânica e Engenharia Naval. E eu sempre tive gosto por barcos e até acabei por meter uma das opções em Engenharia Naval. Mas depois acabei por optar por Mecânica, que acaba por ser uma área mais abrangente. Sempre tive, tal como o Miguel, gosto por, como ele disse, engenhocas, brincar com legos, ver como as coisas encaixam. Sempre tive uma fixação muito grande com comboios, olhar para uma locomotiva e pensar: “Uau, como é que isto consegue ter tanta força e puxar tantas carruagens”. E acabei depois por ingressar em Engenharia Mecânica, tal como o Miguel, também tinha nota para entrar. E até agora estou a gostar.

Esta pergunta se calhar era mais para os vossos pais, mas pronto… É muito difícil, hoje em dia, ser estudante em Lisboa, não indo e vindo todos os dias, é difícil. Vocês reconhecem que os vossos pais estão a fazer um esforço grande?

Miguel: Sim, eu reconheço completamente o sacrifício que os meus pais fazem para me conseguir sustentar e à minha irmã, para podermos estar a estudar em Lisboa. E agradeço-lhes pelo que eles fazem, porque realmente os preços estão uma coisa completamente fora deste mundo.

Acham que há colegas vossos que não estão a estudar por dificuldades financeiras?

Miguel: Acredito que seja uma possibilidade. Dentro do meu círculo curto de amigos não conheço nenhum caso, mas acredito que seja uma possibilidade para várias pessoas.

José: Eu acabo por discordar. Eu, tal como o Miguel, também no meu círculo próximo não tenho ninguém. Mas eu sei que dentro do técnico e mesmo no ensino superior acabam por existir muitas ajudas. E não me lembro de ninguém vir ter comigo e dizer que não conseguiu, ou ter essa opinião, que não conseguiu ingressar no ensino superior por falta de capacidade monetária. Dentro do Técnico acabam por existir várias ajudas, várias bolsas, várias empresas que acabam por, às vezes, até apadrinhar os alunos. Mas claro que sim, é difícil, os preços em Lisboa estão caríssimos e acaba por não ser fácil.