Retrocessos

Os tempos atuais estão a ser marcados por um evidente retrocesso civilizacional e cultural. Poucos imaginariam que o homem – depois de feitos tão extraordinários, como o foram o avanço das ciências e da tecnologia em praticamente todas as áreas; a revolução informática que permitiu a difusão universal do conhecimento; a nova realidade das comunicações pessoais, com a possibilidade imediata de todos
nos ligarmos a todos – pudesse voltar a agitar bandeiras de tanta intolerância e ignorância.

A covid-19, que continua a matar e a infetar multidões, provocou de imediato as mais delirantes teorias da conspiração quanto à sua origem, o surgir dos que simplesmente negam a sua existência e a parafernália de mezinhas facebookianas para a sua cura. O irracionalismo e o medo andam (novamente) à solta e toldam o raciocínio.

Os apologistas da antiga ordem da humanidade, defensora dos “bons costumes”, socialmente bem-comportada, e reverencial aos seus amos e senhores, alastram pelo planeta, disseminando-se quase à
velocidade do novo coronavírus. De Trump, Bolsonaro, Salvini ou Orban, produzem-se clones nacionais um pouco por todo o
mundo.

Em Évora, num congresso destinado à aclamação do clone português, as ideias a debate primaram pelo mais puro nacional-fascismo. De entre elas, algumas são o expoente deste retrocesso civilizacional e cultural, como a proposta apresentada (e discutida) da castração feminina, que propunha retirar os ovários às mulheres que abortem (a solução final!…).

Nunca uma sociedade com tanto conhecimento, produziu tanta ignorância.

Gustavo Costa
PS Almeirim

Artigo de Opinião publicado na edição impressa de 1 de outubro