Bom senso e descontração para umas férias felizes e revigorantes

As férias são o único período do ano em que as crianças e os adultos vivem livremente, sem amarras a horários, nem necessidade de cumprir atividades obrigatórias. Será um período muito construtivo se for vivido de forma descontraída e divertida, aproveitando todas as oportunidades animadas para desfrutar de momentos verdadeiramente revigorantes. Para viabilizar esses objetivos, é essencial desligar o “complicómetro” e não desperdiçar tempo com coisas supérfluas ou inúteis. 

A mala de viagem deve limitar-se ao essencial. Roupa confortável e adequada ao clima local, um protetor solar adequado à idade, uns óculos escuros, um chapéu claro com abas, um desinfetante para as previsíveis esfoladelas, medicação (Paracetamol) para eventual episódio de febre, boa disposição, tolerância e muitas histórias para contar são os ingredientes indispensáveis. 

É importante recordar que a roupa suja é um sinal revelador de saúde, liberdade e aprendizagem, pelo que não merece repreensões. Roupa excessivamente protetora (nomeadamente da radiação solar) pode limitar a sudorese e, consequentemente, as perdas de calor corporal. É importante procurar locais frescos, com sombra e reforçar a ingestão hídrica.

Com o aumento das atividades, o apetite torna-se voraz. A preocupação com a confeção das refeições não deve consumir tempo excessivo aos adultos. Convém reforçar que a partir dos 6 meses de idade a criança tem maturidade intestinal para comer todos os alimentos incluídos na roda dos alimentos, que é essencialmente composta por legumes, frutas, hidratos de carbono e água. Assim. as sanduíches e as peças de fruta fresca constituem o snack mais saudável para colocar na mochila de passeio. A possibilidade de a criança poder colaborar na confeção da sua própria refeição constitui uma vantagem acrescida. A água nunca deve ser esquecida. Quando transportada num termo mantém-se numa temperatura adequada por um período mais prolongado. Comprada no local de destino, uma sopa de legumes constitui uma alternativa adequada para desenrascar inúmeras situações. Se normalmente a criança faz uma alimentação saudável, ligeiras prevaricações durante as férias não comprometerão a sua saúde. Pequenos atrasos nos horários das refeições são perfeitamente toleráveis e não devem constituir motivo de angústia.

Na rua, as crianças correm, saltam e brincam até ficarem exaustas, pelo que o anoitecer costuma vir acoplado do sono indispensável a uma noite de repouso. A única “prisão” indispensável neste período limita-se à cadeira de contenção onde a criança deve ser invariavelmente transportada nas viagens de automóvel. 

As férias devem ser partilhadas com os amigos e com a família alargada, num espírito de solidariedade, tolerância e descontração. Desta forma, a disponibilidade dos adultos e das crianças é ainda maior e a interação entre os pares torna-se particularmente rica.

Não é por acaso que muitas crianças proferem as primeiras palavras ou dão os primeiros passos durante as férias. Calmamente, colaborando com os adultos nas tarefas quotidianas, a criança aprende conceitos essenciais à sua própria sobrevivência e aprende a reconhecer e ultrapassar diversos perigos. As histórias antigas relatadas pelos mais velhos perpetuam a identidade cultural, reforçam a linguagem e a memória, e mantêm os laços afetivos. As brincadeiras com amigos de idades diferentes estimulam a autonomia, a partilha e a capacidade de cooperação. Com o intuito de perpetuar a brincadeira, a criança aprende a seduzir os parceiros, a gerir os conflitos e a lidar com a frustração. A brincar, num espírito de reduzida competitividade, a criança torna-se menos ansiosa e muito mais descontraída e feliz. Ao ar livre a criança brinca até ficar cansada, combate o sedentarismo, desenvolve a psicomotricidade, aprende a respeitar a natureza e a conhecer e a desenvolver os seus próprios limites. Enquanto as crianças brincam, os adultos ficam mais disponíveis para confraternizar entre si. Os passeios e as atividades culturais contribuem para alargar os conhecimentos de uma forma interativa. 

Ao contrário do período escolar, nas férias não existe um plano curricular obrigatório e não há avaliações nem trabalhos de casa. Contudo, existe uma aprendizagem essencial que decorre naturalmente, sem pressa nem correrias. De forma lúdica e circunstancial, a criança vai progressivamente encontrando respostas para a sua curiosidade, e vive experiências únicas que contribuem para o seu desenvolvimento físico, social, emocional e cognitivo. Embora não seja avaliada, é previsível que a criança regresse de férias dotada de um currículo enriquecido de competências básicas indispensáveis ao seu crescimento e bem-estar que, infelizmente, são pouco valorizadas nos currículos escolares.

BOAS FÉRIAS! Desfrutem! E lembrem-se de que os momentos felizes perpetuar-se-ão eternamente na memória, são os mais revigorantes e proporcionam experiências únicas e aprendizagens discretas, mas inigualáveis. 


Teresa Gil Martins

Pediatra