Os sacrifícios de uma vida

DETERMINAÇÃO Tiago Campos terminou em 23ºlugar nos 10kms em águas abertas dos Jogos Olímpicos de 2020 de Tóquio. O atleta que viveu do concelho de Almeirim regressou às origens a convite da Almeirinense TV e descreveu os sacrifícios para aqui chegar.

Há quanto tempo é que não vinha a Almeirim?
Já não venho a Almeirim há já algum tempo. Às vezes venho cá ter com o meu massagista, mas é esporadicamente. Mas de resto, passo a maior parte do meu tempo em Rio Maior.

Que balanço fazes da tua participação?
Acho que foi um balanço muito positivo. Acho que me sinto um felizardo por me ter apurado na minha primeira vez que tentei o apuramento. Tenho a minha colega Angélica André que foi a terceira vez que tentou o apuramento e à terceira foi de vez. O meu balanço da prova acho que foi positivo até meio. Depois senti-me mal, mas dei o meu melhor, dei tudo por tudo e até ao final. Consegui terminar a prova, mas pensei que não fosse conseguir, mas consegui acabar.

Como é estar na maior prova que existe no planeta em termos de modalidades desportivas? Qual foi a sensação de estar lá?
Acho que é um sentimento muito grande, porque sou o único português na minha modalidade a representar o nosso país e acho que isso acarreta uma grande responsabilidade. E aquilo foi espetacular: a Vila Olímpica, estar com atletas de culturas diferentes. Vi algumas finais de piscina, por exemplo, e fiquei estupefacto com os tempos que eles fizeram e acho que foi mesmo incrível.

Viste lá alguns dos teus ídolos, daqueles com quem te identificas e estiveste na presença deles. Como é que é essa sensação?
É uma sensação muito boa. É saber que o trabalho que eu fiz durante estes anos deu frutos e que consegui alcançar o tão sonhado sonho que eram os Jogos Olímpicos e que agora já consegui e espero conseguir outra vez em 2024, em Paris.

“(…) em relação à Covid-19, eu acho que foi uma oportunidade para mim de ter mais um ano para trabalhar (…)”

Com a Covid-19, achaste que foi diferente o espírito que cada atleta levou para as modalidades e sem o público? O que é que isso afetou em termos gerais?
Acho que sem o público não sentimos aquela motivação de estar ali muita gente a puxar por nós.
E em relação à Covid-19, eu acho que foi uma oportunidade para mim de ter mais um ano para trabalhar e acho que foi mesmo graças à Covid-19 que, este ano, me fortaleceu e me deixou apurar.

Como foi a tua preparação para os Jogos Olímpicos? Como é o teu trabalho diário?
O meu trabalho diário começa muito cedo. Às seis e meia da manhã já estou a entrar dentro de água e a seguir tenho ginásio. Depois vou almoçar, faço uma sesta e depois vou treinar às três e meia e vou ter ginásio novamente à tarde.

“(…) ir a Paris é um objetivo a longo prazo. Mas o objetivo a curto prazo acho que é agora mesmo o Mundial (…)”

Quantas horas mais ou menos por dia?
Acho que mais ou menos sete horas por dia.

Tudo isto ao serviço do Clube de Natação de Rio Maior.
Sim, nas instalações do Carmo, em Rio Maior.

E qual o teu próximo objetivo agora? Falaste há bocado em Paris…
Sim, ir a Paris é um objetivo a longo prazo. Mas o objetivo a curto prazo acho que é agora mesmo o Mundial que vai ser em Fukuorka e espero fazer uma excelente prestação.

E já a pensar nos Jogos Olímpicos?
Sim.

“(…) agradeço-lhes profundamente, porque se não fossem eles a acreditarem em mim, hoje não estava nos Jogos Olímpicos”

Agora vamos falar um pouco de Almeirim. Como é que surge a tua ligação ao concelho?
Quando eu era pequeno, os meus pais meteram-me na natação e comecei a nadar aqui em Almeirim. Acho que aos três anos apanhei uma virose e tive de parar durante um ano e depois voltei novamente para a natação, mas desta vez em Santarém. Aos meus oito anos, entrei na competição e desde aí fui sempre evoluindo, mas depois o meu clube acabou e acabou a competição dos mais velhos. E eu pensei: “Bem, vou desistir da natação” e já estava com isso na cabeça,
mas os meus pais acreditam muito em mim e colocaram-me no Clube de Natação de Rio Maior até aos dias de hoje e agradeço-lhes profundamente, porque se não fossem eles a acreditarem em mim, hoje não estava nos Jogos Olímpicos. E é tudo graças a eles, porque eu tinha desistido, mas eles acreditaram sempre em mim.

“Em termos monetários, se querem ir longe, têm de gastar algum dinheiro”

E a tua ligação pessoal ao concelho de Almeirim. És dos Cortiçóis, certo?
Sim, eu sou dos Cortiçóis. Eu vivi toda a minha infância lá. No quinto ano fui para Coruche, mas depois voltei para Almeirim e desde aí até ao 12ºano fiquei por Almeirim e a viver cá.

Ainda tens uma grande ligação com Almeirim?
Sim. A maior parte dos meus amigos são daqui de Almeirim, de Cortiçóis, Benfica do Ribatejo, é tudo por aqui por esta zona.

Ainda te lembras da tua turma, dos teus professores… Ainda tens essas recordações?
Sim, tenho. Por acaso, muitos professores mandaram-me mensagens a dar os parabéns e eu fiquei muito grato, porque eles lembraram-se de mim e acho que isso foi muito bom mesmo.

Quando te perguntam de onde és, qual é a tua resposta?
Normalmente, eu digo sempre que sou de Almeirim, porque se eu dissesse que sou dos Cortiçóis, nunca ninguém sabe onde é que se situa. Então, normalmente digo sempre Almeirim.

“Gostava de agradecer a todos pelo apoio que me têm dado (…)”

A natação é um desporto que, na tua ideia, tem que se fazer um grande esforço para que se consiga chegar ao ponto onde tu chegaste, gasta-se muito? Falaste em termo de horas, mas também em termos monetários?
Em termos monetários, se querem ir longe, têm de gastar algum dinheiro. Por enquanto, os meus pais é que me sustentam, porque eu estou na faculdade, mas este ano fiz um ano em que me foquei totalmente na piscina, nas águas abertas e acho que fiz muito bem, porque consegui alcançar os Jogos Olímpicos. Na questão das viagens, a Federação cobre as viagens e os alojamentos, mas, às vezes, temos de fazer altitudes e, às vezes, a Federação não pode cobrir isso.

“Os meus pais já tiveram que se chegar à frente e fiz, pelo menos, duas ou três altitudes em que os meus pais pagaram (…)”

Os meus pais já tiveram que se chegar à frente e fiz, pelo menos, duas ou três altitudes em que os meus pais pagaram e eu acho que isso é para eu evoluir. Gostava de agradecer a todos pelo apoio que me têm dado e espero que os meus colegas de Almeirim e todas as pessoas que me conhecem estejam orgulhosos de ter alcançado este feito, porque acho que devíamos estar todos orgulhosos, porque é uma representação de águas abertas em Portugal, algo que não acontecia desde 2008 com dois atletas, um feminino e outro masculino. Por isso, acho que devemos estar todos orgulhosos (risos).