“Quem fala muito, pouco acerta”, por Augusto Gil

Vender é uma arte em constante evolução mas sempre baseada em métodos ancestrais. Há os que choram baba e ranho e os que vendem lenços ao lado e os que vivem da morte vendendo caixões. Há também os vendedores de ilusões, os que vendem gato por lebre e os que vendem ensinando a vender, tudo dependendo da técnica com que o fazem. Por exemplo a nossa “Sopa de Pedra” que parece mais por vezes, um caldinho de “Auga das Malvas” para lavar os Intrefolhes do que aquilo devia “saber”! Desde sempre me atraíram os vendedores ambulantes que apregoavam os seus produtos ali perto na Praça de Táxis ou mesmo pelas ruas e no Mercado.

Muitos deles estão em vias de extinção ou pura e simplesmente já não existem, vítimas das constantes transformações operadas na sociedade de consumo, somos alvejados e de que maneira. Contudo, o tempo não conseguiu apagar da memória a lábia o que era o ganha-pão de muitos e que agora apresento aos estimados leitores.

Noutras localidades do país os existiram também e talvez pelo que será bem-vinda a colaboração do leitor no sentido de ampliar uma crónica que pretende de alguma forma contribuir para o registo documental de tão importante património humano e cultural que dos nossos que já foram e nos deixaram e agora é uma vergonha falar disso, não é? Na foto aqui apresentada, recordamos o nosso Mercado nos anos 20. Hoje é o nosso triste Jardim da Republica. O local onde foi tirada a foto do lado onde se encontra hoje o Banco CGD/SANTANDER, foi ali a primeira praça de um táxi que foi do Sr. Marmelo sogro do então bem conhecido António Pardal T´Esquiado. No Local onde se encontram os Ferraris da altura, encontra-se hoje os Sanitários Públicos, lugares para os PICA (não confundir com os MICA), onde em tempos o cheiro das flores nos deliciava, hoje o cheiro a Urina e os etc., nos faz atravessar a estrada para o outro lado a sete pés. Sem duvida ali os pregões eram utilizados e de que maneira e tinha-se que vender de qualquer maneira.

 Mesmo daquele cigano que nesta Praça tentava vender um burro Cor-de-rosa mas era branco, e que muitos atribuíam de ser intrujão e vigarista e que era impossível porque não os havia daquela cor. Mas de lábia que nunca lhe faltava respondia sempre: -Aiiii! Na m`digam que tou a mintire, atão? Na há rosas “Brancas” tamém? Por isse mesme o burrinhe é branco… é cor das rosas… brancas? Até parece que vocemecê nim é de cá…! Sônate e esguirate daqui…!

Conheci muitos vendedores para os quais hoje simbolicamente na minha crónica vai recordar alguns apesar com o tempo, muitos como os Padeiros, os Carvoeiros ou Leiteiros (as) etc., começavam por utilizar a famosa corneta de assopro. Cada uma com o seu som, mas lá ao longe já os identificávamos. Assim mais um pouco de Almeirim de outras eras, dos pregões matinais e profissões, que já não voltam mais. (Isto é de uma canção, a`lembram-se?)

Outros ofícios antigos que o tempo e a memória apagaram, e ainda outras que hoje já se encontram em vias de extinção ou substancialmente modificadas, ou ainda com nova roupagem, novos nomes e assim tivemos e ainda temos alguns. Mas como conta a Historia que quando Almeirim foi inventada em 1411, (bem não queria ir mais longe mas o Pateta e o Rato Mickey foram os que fizeram Almeirim) tanto que hoje ao perguntarmos aos que vivem por aqui , conhecem mais estes personagens que as realezas daquele tempo que fizeram esta terra… e já agora para alguns (nada de Internetenes para serem cultos e virem a falar e serem sábios disto, tá bem?) começa aparecer e por desígnio da realeza e também com a necessidade do Povo muitas profissões que só mais tarde serão reconhecidas como tais que vão desaparecendo; ora vejamos porque aqui desde de aldrabões cuja profissão foi já contemplada no dia 10 de Junho pelos Governos e Presidentes deste Século será mais uma que nunca vai desaparecer. Assim e já que muita gente me pede para falar de coisas antigas aqui vai um rol de profissões se por acaso não saberem do que se trata, o favor de ir ao Dicionário para verem o que eram.

Almeidas; alcaides; alfagemes; alfaiates; aljubeiros; almocreves; almoxarifes; anadéis; atafoneiros; albardeiros; agulheiros; amola tesouras; aguadeiros; ardinas; besteiros; bagageiros; boticários; boiadeiros; boletineiros; banqueiros; boticários; caçadores; carniceiros; carpinteiros; calceteiros; caixeiro-viajante; cocheiros; criado de quartos; costureiras; carroceiros; cantoneiro de estradas; carvoeiros; cesteiros; cangalheiros; cavaleiros; choufarros; clérigos; cordoeiros; correeiros; canteiros; dactilografas; escrivães; estivadores; escudeiros; fotógrafo á lá minute; forneiros; falcoeiros; fanqueiros; ferreiros; fidalgos; freiras; jeiroas; hortelãos; hospitaleiros; inquiridores; juízes; lagareiros; lavradores; mercadores; merceeiros; galinheiras; governantas; grumos; grumetes; guarda-linhas; guarda fios; Jornaleiros; latoeiros; lavadeiras; leiteiros; marçanos; moço de fretes; oleiros; odreiros; ourives; passareiros; polícias sinaleiros; raçoeiros; regatões; ronceiros; pedreiros; porteiros; pregoeiros; procuradores; paquetes; sapateiros; serviçais; soldões; tabeliães; taberneiros; tecedeiras; tecelões; tosadores; trapeiros; trombetas: vassalos; vidreiros e até viúvas (podem acreditar que em tempos foi considerada uma profissão, hoje com os casamentos entre homossexuais, se um morrer o outro ficará denominado como “Bicha Solitária”); taberneiros; trapeiros; taxistas telefonistas; varinas; varredores; padeiros; Presidentes de Câmara; engraxadores; farmacêuticos; e ultimamente os denominados lambe botas e etc., e muitos mas muitos etc’s e etc’s! Já agora a Parteira que ajudou a sair muitos como chorões do regime depois do 25 de Abril!

Mas a tecnologia de vender teve sempre um pouco de humor para o fazer. De recordar muitos de antigamente e muita gente se lembra, que ao entrarmos por exemplo numa Mercearia ou onde fosse, poucos ou nenhuns sorrisos salvo algumas excepções haviam do outro lado do Balcão: – Atão ó Zé, hoje tás c´os azeites ó quê…? – Tou, porque já sei que me vens pedir fiado…qu´e que queres, sou assim! 

Augusto Gil – Crónica