A igreja São João de Alporão, em Santarém, vai acolher uma exposição de pintura e desenho com trabalhos do artista escalabitano, José Quaresma, dedicada ao Capitão de Abril, Salgueiro Maia. A mostra, ‘Salgueiro Maia e o comboio sem reservas – Entre Castelo de Vide, São Torcato e Santarém’, vai ser inaugurada no próximo dia 28 de maio, quarta-feira, pelas 18h30, e ficará patente até 22 de junho.
Para esta exposição, José Quaresma contou com a colaboração de cerca de cinquenta crianças, alunas do Centro Escolar Salgueiro Maia, em Santarém. O projeto faz parte de um trabalho que envolve a realização de um conjunto de três exposições em Santarém, Castelo de Vide e em Coruche, neste último caso com uma extensão à aldeia de São Torcato, numa estreita ligação com a Escola-Museu Salgueiro Maia, existente na localidade.
As mostras consistem “na apresentação de pinturas e desenhos sobre Salgueiro Maia da minha autoria, harmoniosamente conjugadas com painéis de desenhos a realizar por cerca seis turmas de vinte e cinco alunos cada, em três escolas primárias dos três lugares mencionados, cuja coordenação será da curadora Lúcia Saldanha, responsável pela Galeria PeP (Portugal entre Patrimónios), do MNAC”, revela o artista.
José Quaresma explica que “no tempo que lhe foi próprio, Salgueiro Maia interveio na realidade antecipando e projectando o contexto dos nossos dias, arquitectando-o com energia incessante, profundo sentido de esperança e consciência de plasticidade social.”. Recuando até ao ano de 1974, o artista aponta que “após cinco décadas de depressão colectiva e violência política, a ‘maré alta’ (Sérgio Godinho) que Maia nos proporcionou garantiu outras tantas décadas de liberdade e vozes sem freio. Ou seja, andámos absurdamente ‘amordaçados’ mas árdua e corajosamente desfizemos vários ‘nós górdios’ (alusão ao livro de Carlos Matos Gomes), conseguindo pôr fim ao tempo do medo.”
Sobre a exposição, o artista plástico recorda que “há alguns anos que escuto vozes apelando à continuidade das conquistas de Abril sob novas formas (sem nostalgia desses anos de mudança), nomeadamente com enfoque na criação de projectos que robusteçam as nossas condições económicas, tendo como finalidade a redistribuição (equitativa ou proporcional) da riqueza gerada”, pelo que “subscrevemos, naturalmente, o que estas vozes sugerem fazer no presente relativamente à economia e à prometida redistribuição de riqueza. Porém, observando bem a realidade envolvente e atendendo às condições civilizacionais em que nos encontramos imersos, tanto no plano nacional como internacional, condições nas quais se entrevê um conjunto de ameaças aos direitos elementares da democracia que julgávamos irreversíveis, talvez seja pertinente acrescentar a tal nostalgia de Abril e de Salgueiro Maia ao ambicionado crescimento económico”, aponta ainda.
O artista realça também que “paralelamente à preocupação com o progresso económico, devemos estar sempre de ‘atalaia’ relativamente à defesa do valor incomparável da liberdade, valor este que levou Salgueiro Maia a exortar soldados” e “a marchar sobre Lisboa e a cercar o Carmo. Ora, a meu ver, na actualidade, estar de ‘atalaia’ em relação às ameaças que recaem sobre as nossas sociedades livres e participadas pressupõe a busca de motivação num conjunto forte de referências atinentes à Liberdade entre as quais figura e reluz Salgueiro Maia. É, pois, pela actual e futura defesa da Liberdade herdada de Abril que proponho este projecto artístico e pedagógico, contributo individual e colectivo para continuar a defende-la de forma obstinada e criativa.”, conclui.