O tempo acabou por dar razão a quem classificava Pedro Nuno Santos como um líder impulsivo. Apesar do esforço notório que foi fazendo para ser mais contido nas suas reações, acabou por cair à quarta ou quinta tentação de interromper a legislatura.
Do meu ponto de vista, o líder do PS tinha um plano depois das eleições que perdeu por pouco em 2024, que pressuponha ultrapassar as seguintes seis etapas: 1. Ser o líder da oposição enquanto entregava o PSD aos cuidados do Chega; 2. Ter uma vitória nas europeias, enquanto despachava alguma oposição interna para Estrasburgo; 3. Ter uma vitória clara nas autárquicas (entenda-se: manter-se como a principal força autárquica e ganhar Lisboa e/ou Porto) que constituiria a vaga de fundo impulsionadora do PS nas sondagens, necessária antes de ser declaradamente uma oposição de rejeição sumária; 4. Apoiar um candidato ganhador nas Presidenciais que consubstanciasse a evidência de uma nova viragem do país à esquerda; 5. Promover os Estados Gerais onde ganhariam preponderância os rostos do novo PS e os “independentes” que se assumiriam como alternativa de governo; 6. Provocar eleições antecipadas e sublevar-se como a única força política com condições aritméticas para governar.
O plano só foi bem-sucedido em uma das seis etapas (a número 2) e Pedro Nuno entrega o partido numa situação muito pior do que a que recebeu, que já era má, fruto do desgaste de um longo período de governação.
É no contexto inédito de ser a terceira força partidária que o novo líder do PS terá a difícil missão de ressuscitar o partido e, ainda pior do que o fraco resultado eleitoral (23%), é perceber de onde (não) vieram esses votos. O PS perdeu a juventude, perdeu as elites económicas e intelectuais, perdeu o litoral e perdeu o sul. A reforma do partido será sempre longa, mas só será possível se atentar a estes sinais.
É indiscutível que o país virou à direita, mas também é evidente que o eleitorado não é predominantemente ideológico, simplesmente vai procurando, a cada momento, as melhores soluções para os seus problemas, alguns dos quais tão presentes no dia-a-dia que levam a que se escolha pensos rápidos para tratar feridas profundas.
Neste momento, o Partido Socialista precisa de tempo, um bem muito escasso em partidos de poder, e isso só se obtém, de forma paradoxal, garantindo estabilidade ao governo da AD.
Será uma quadratura do círculo desafiante para o novo Secretário-Geral: por um lado não pode ter pela frente quatro anos de abstenções violentas, entregando o monopólio da oposição ao Chega e por outro não pode voltar a passar por responsável da queda de um governo; por um lado já só pode crescer para o centro e por outro deixa a esquerda toda disponível para ser arregimentada pelo único partido dessa área que sobreviveu, o Livre.
Tem ainda uma agravante, sendo José Luís Carneiro o senhor que se segue. É que enquanto a imigração for o tema dominante do discurso político, estará sempre condicionado por ter sido no seu turno enquanto Ministro da Administração Interna que se consumou a extinção do SEF, processo que se desencadeou com Cabrita e efetivou com van Dunem e sobre o qual Carneiro até foi o menos responsável… mas da fama não se livra.
Nesse sentido, depois do atropelo de 18 de maio, importa que, desta vez, o PS pare, escute e olhe. Isso significa, numa primeira fase, olhar para dentro de modo a encontrar a solução que volte a unir o partido e depois olhar para fora, com o foco nas pessoas que pretende representar e nas pessoas que pretende que o representem.
As últimas eleições e as que se aproximam – autárquicas e presidenciais – constituem-se como atos em que os eleitores votam com o objetivo de mostrar cartões vermelhos aos partidos e à classe política. Nas legislativas consubstanciou-se em votos no Chega, nas autárquicas será em votos em movimentos independentes e nas Presidenciais em votos no Almirante.
Como referi anteriormente, nada disto tem uma base ideológica. Deve ser mais entendido como um comportamento face a um reality show em que uma parte dos eleitores vota para expulsar e não para salvar.
João Bastos