No artigo anterior abordei os contactos de Diogo Cão com Cabinda e o Reino do Congo e do facto de ter levado gente nobre deste reino para Portugal, trazendo-os de volta em 1485, estes já animados do propósito de se converterem ao catolicismo e de estar sob a suserania portuguesa. Diogo Cão irá prosseguir a sua rota para o Sul e vai chegar ao Cabo Negro (Baía de Moçâmedes) onde contacta os chefes locais, liderados pelo Ngola. Daqui segue até ao Cabo da Cruz, na actual Namíbia, introduzindo a utilização dos padrões de pedra, para assinalar a presença portuguesa nas zonas descobertas.
Em simultâneo, ainda apoiados pela Ordem de Cristo, outros navegadores sulcam as águas da costa sudoeste africana, à procura da almejada ligação entre os oceanos Atlântico e Índico. Caberá tal desiderato a Bartolomeu Dias, em 1488, que depois de vários dias de violentas tempestades e tormentas, lhe pôs o nome de Cabo das Tormentas. Ao retornar com a notícia, o rei João II mudou-lhe o nome para Cabo da Boa Esperança porque, ao ser dobrado, prometia a tão desejada chegada à “Índia das especiarias” e ir ao encontro do Reino do Preste João das Índias: especiarias essas que enriqueciam as repúblicas italianas de Veneza, Génova e Florença, não enquanto condimento alimentar mas especialmente como produto medicinal, essência para a fabricação de perfumes e fonte de preservação de alimentos; a importância do Reino do Preste João das Índias na tentativa de torná-lo aliado numa possível expedição à Índia, em fase de planeamento. E essa expedição à Índia e logo depois ao Brasil vai ganhar prioridade, pelo que o interesse pela costa africana só reaparece nos meados do século XVI.
Será só em 1571 que se reiniciarão as preocupações com o litoral do sudoeste angolano. Em 1574 D. Sebastião envia para as terras do Ngola Paulo Dias de Novais com o título de “Governador, conquistador e povoador do Reyno do Sebaste na Conquista da Etiópia ou Guiné Inferior”, signifi cando este clássico topónimo grego Sebaste de “sublime” ou “venerável” dedicado à pessoa do rei. Iniciava-se agora a possessão ou conquista por força e sua incorporação no Estado.
Paulo Dias de Novais desembarcou com 350 homens em armas na Ilha das Cabras, actual Ilha de Luanda, em Fevereiro de 1575. Aqui, surpreso, encontra uma igreja, um padre e portugueses estabelecidos com o comércio de nzimbos, pequenas conchas, moeda corrente para o comércio com o interior das províncias do Reino do Congo.
Entre acordos e desacordos com representantes do Ngola Kiluari Kiassambe, é permitido a Paulo de Novais em 1576, fundar em terra firme a povoação de São Paulo de Luanda, nome este proveniente do comércio dos nzimbos, pois o topónimo “Luanda” provém do étimo “lu-ndandu”, sendo o prefixo “lu”, comum nos nomes de zonas do litoral ou bacias de rios e “ndandu” significando objecto de comércio.
Criando conflitos entre os sobas, os portugueses vão-se fixando e explorando os recursos naturais, e o negócio de escravos. Para o efeito bastava-lhes esperar que fossem aqueles enviados pelos sobas, pois à época a penetração para o interior era muito limitada, apenas tentada pelas missões católicas.
A partir de 1588 recomenda o rei aos novos Capitães do agora “Reyno de Angola”, (com os territórios de Luanda, Bengo e Cuanza), um tratamento cortês aos sobas, divididos entre vassalos, sujeitos à renovação da sua amizade, e amigos porque centros de irradiação de influência portuguesa. Em simultâneo o povoamento passava a ser uma preocupação, pelo que, qual dupla vantagem, iniciava-se o degredo de portugueses para terras do continente africano.
A partir de 1624 vai surgir um largo período de instabilidade quando Nzinga Mbandi (Ana de Sousa depois de baptizada pelos missionários), fundadora e rainha do Reino da Matamba vai travar grandes batalhas com os portugueses principalmente a partir de 1631, até um tratado de paz ser assinado em 1656. Nzinga reinará por 37 anos e, recordada pelos seus feitos políticos e militares, tornar-se-á uma heroína na história futura de Angola.
Após o fim da dinastia filipina, em 1641, os holandeses ocupam Luanda, pois necessitavam de escravos para os seus engenhos de açúcar no Nordeste brasileiro que haviam ocupado a partir de 1630 . Ordenado por D. João IV, Salvador Correia de Sá, governador do Rio de Janeiro, vem com 1400 militares, entre os quais algumas companhias de índios já cristanizados, anteriormente índios canibais. Uma destas, tendo desembarcado longe pela força das correntes, caiu nas mãos dos jagas, africanos canibais aliados dos holandeses, tendo sido devorados no espeto, mais de uma centena e meia de índios.
Os holandeses capitulam e abandonam Angola em Agosto de 1648.
[Bibgª: G. Bender, D. Birmingham, B. Ogot, L. de Albuquerque. Por decisão pessoal, o autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico].
Cândido de Azevedo