Quase meio século depois de ter sido furtado, o quadro “O Bibliófilo” da autoria de Manuel Maria Bordalo Pinheiro, foi finalmente devolvido ao acervo público de Santarém. A entrega oficial decorreu no passado dia 25 de junho, numa cerimónia marcada pelo simbolismo e pela emoção, nas instalações da Câmara Municipal.
A obra, datada de 1870 e com 23 por 29 centímetros, fazia parte do espólio deixado à cidade por Anselmo Braamcamp Freire, através de um testamento redigido em 1921. A pintura foi localizada em janeiro deste ano, num leilão nacional, onde estava prestes a ser vendida pela herdeira de um colecionador privado do norte do país.
Após alerta da Polícia Judiciária, o Ministério Público assumiu a condução do processo, que culminou na restituição da obra ao município. A cerimónia de devolução contou com a presença das inspetoras Teresa Esteves e Paula Videira, da PJ, do vereador da Cultura, Nuno Domingos, do chefe da Divisão da Cultura, Marco Loja, e da diretora da Biblioteca Municipal de Santarém, Luísa Cotrim.
“O Bibliófilo” junta-se agora a outras seis obras recuperadas entre 1985 e 1986, que pertencem ao conjunto de dez peças furtadas em 1978, durante as obras na antiga Biblioteca Municipal. Entre as peças já recuperadas estão pinturas de autores como Vallin, Brueghel, Drovgtroot e outras de autor desconhecido, datadas entre os séculos XVI e XIX.
O furto ocorreu durante a madrugada de 28 para 29 de agosto de 1978, numa altura em que o edifício estava em remodelação e ampliação. Durante a transferência do espólio para a Câmara Municipal, dez objetos de elevado valor patrimonial desapareceram, incluindo quadros, aguarelas e um relógio de mármore.
Apesar desta importante recuperação, quatro obras continuam desaparecidas. Entre elas encontram-se “Paisagem com animais”, um óleo da autoria de Conoy, e “O Caçador”, também de Bordalo Pinheiro. Permanecem igualmente por localizar duas aguarelas com caricaturas de Alexandre Herculano e de Braamcamp Freire, ambas assinadas por Emílio Pimentel, bem como um relógio de mármore castanho com pintas brancas.
Para a Câmara Municipal de Santarém, esta recuperação é mais do que o regresso de uma obra de arte, representa um importante passo na preservação do património e da identidade cultural da cidade.